Cunha Couto

Gestor de Crises

A governança das crises de desastres naturais

CCBlog 122

Chuvas no Rio Grande do Sul, terremoto no Marrocos, tempestade na Líbia. Em uma semana neste mês de setembro de 2023, essas manchetes nos trouxeram alertas que muitos já consideram ser o novo normal em nosso planeta.

Esses alertas não podem continuar sendo ignorados.

O cientista brasileiro, referência mundial em mudanças climáticas,  Carlos Nobre, vem alertando que os desastres ambientais no Brasil tendem a ser cada vez mais frequentes e mais graves.

O aumento da temperatura global está diretamente atrelado a essas catástrofes ocorridas no início deste ano no litoral de São Paulo e agora no Rio Grande do Sul.

A causa do desastre natural no Sul do país foi um ciclone e chuvas intensas decorrentes dos efeitos do fenômeno El Niño, que eleva as temperaturas do Oceano Pacífico. Até aqui se somam 48 mortos e milhares de desabrigados no Rio Grande do Sul.

O pior é que está previsto o ápice do El Niño só no final deste ano, aumentando o risco de tempestades intensas e frequentes no Sul do Brasil.

No continente africano, um terremoto devastador na região da Cordilheira Atlas, próxima a Marrakesch, destruiu as muitas casas de barro, além de provocar deslizamentos de terra, fazendo cerca de três mil mortos.

Recordemos que em 2010, um terremoto matou mais de 200 mil pessoas no Haiti, país já castigado pela pobreza. Dois meses depois, outro terremoto, este com epicentro no mar, causou um tsunami na costa chilena. E, em 2011, outro terremoto provocou um tsunami na costa nordeste do Japão, resultando em 18 mil mortos.

Na Turquia, que está sobre uma zona sísmica, no dia 6 de janeiro de 2023, dois tremores de magnitude 7,8 sacudiram o país em sua fronteira com a Síria. Estradas, aeroportos e edifícios ruíram e gasodutos explodiram. O número de mortos chegou a mais de 40 mil.

E neste setembro, a tempestade Daniel atingiu a Líbia, onde 11 mil  habitantes morreram por enchentes e rompimento de barragens e outras 10 mil estão desaparecidas.

Trata-se de país há mais de uma década em guerra civil (desde a morte de Kadafi), rico em petróleo, mas dividido em duas facções rivais, cada uma apoiada por diferentes milícias e países estrangeiros. Com isso, a crise se deve à falta de um governo central, o que dificulta investimentos em infraestrutura.

Esse é mais um aspecto triste dessas crises: quando as tragédias viram lutas políticas, com acusações e desinformações mútuas em momentos tão delicados para a vida de muitas pessoas.

Governantes em xeque

Em todas essas crises citadas aqui, os governantes estão em xeque e são responsabilizados pela dimensão da tragédia. Um exemplo disso é a responsabilização pelo fato de milhares de cidadãos viverem em favelas nas encostas. Por um lado, são, sim, eventos extremos que ocorrem, apesar de avisados ou previstos.

Mas também são extremos os sofrimentos dos que perderam entes queridos ou ficaram desabrigados. Muitos culpam os que moram inadequadamente nas encostas, em ocupações irregulares, mas esses lá estão por falta de opção e por incentivos eleitoreiros, que lhes propõem soluções, caso eleitos. Por esse olhar, a causa maior dos desastres naturais seria a desigualdade.

A verdade é que todas essas catástrofes nos remetem à importância da cultura de prevenção de crises, principal função de qualquer Gabinete de Crises.

Prevenir crises é mais barato, por mais que sejam caras as obras necessárias para fazer frente a desastres naturais. Em média, governos gastam com ações de recuperação e resposta às tragédias naturais nos seus países cerca de 70% dos recursos de Defesa Civil destinados a desastres e apenas 30% em prevenção.

A partir do momento em que a mídia retira seus holofotes dessas tragédias, não se deve perder de vista as consequências delas, que é o pós-crise, ocasião em que se tem a percepção clara de que planos emergenciais não se improvisam: eles precisam ser pensados antes e revisados sempre. Reações precipitadas podem acarretar novos problemas.

Lições a serem aprendidas

Essas catástrofes também servem para demonstrar que há situações em que o aparato de emergência e de Defesa Civil de um Estado não é suficiente frente às dimensões das consequências de um terremoto, enchente ou seca, demandando ajuda internacional. A decisão acertada nesses casos é pedir ajuda internacional.

Todos esses desastres naturais continuarão prováveis, e os países devem evitar mortes em massa, as populações têm o direito de serem salvas.

As omissões exigem responsabilizações.

O que nos fica de grande lição, portanto, é a importância da cultura de prevenção, com os necessários investimentos em infraestrutura, drenagem e contenção de encostas, habitação e preservação ambiental, tudo em tempo oportuno.

As águas das enchentes um dia se irão e os tremores de terra pararão, mas a tristeza dos que tudo perderam, inclusive familiares, ficará!

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