Cunha Couto

Gestor de Crises

Violência nas escolas: para crises complexas, as soluções não podem ser simples

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Quando as causas das crises não são consideradas, as crises retornam e em contextos diferentes.

No dia 27 de março, em uma escola estadual da zona oeste de São Paulo, quatro professoras e dois alunos foram esfaqueados por um adolescente de 13 anos. A professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, por amor e por necessidade ainda em sala de aula, foi esfaqueada cinco vezes e não resistiu aos ferimentos.

Mais uma tragédia dentro de uma escola, local que necessita de paz para o aprendizado e onde se aprenderia a rechaçar a reprodução de estruturas sociais violentas.

Segundo levantamento feito em janeiro e fevereiro de 2023, na rede estadual de São Paulo, 48% dos alunos já sofreram algum tipo de violência nas dependências das escolas em que estão matriculados. O  levantamento aponta ainda a piora das condições de saúde mental nas escolas, em parte pelas condições vividas durante a pandemia da Covid-19.

O que fazer diante desse triste e preocupante quadro?

Conto-lhes minha experiência vivida de 2000 a 2002, quando o governo FHC lançou um Plano Nacional de Segurança Pública, com 124 ações integradas. Nesse contexto, coube ao Secretário Nacional de Segurança Pública à época, coronel José Vicente, coordenar as ações voltadas à repressão e à prevenção. A mim, então no Gabinete de Segurança Institucional, coube a coordenação das ações de prevenção primária, justamente as voltadas para as causas da violência.

Nesse curto período de dois anos, atuamos em sete regiões metropolitanas que, à época, tinham os maiores índices de violência, aqui citados por ordem alfabética: Cuiabá,  Distrito Federal,  Fortaleza,  Recife,  Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória.

Por meio de pesquisas qualitativas e de vitimização (devido à violência subnotificada), chegamos à identificação dos indutores de violência em cada região e vimos que oito deles eram comuns a todas regiões: caos urbano,  incitação à violência, exclusão econômica,  carências na área de Educação, carências nas áreas de Esporte e de Cultura (gerando ócio), mau funcionamento do sistema de Justiça, descrença nas instituições, violência doméstica e carência na área de Saúde.

Para fazer frente a todos esses indutores de violência, a estratégia foi integrar programas federais, com ações estaduais, ações municipais e com apoios do Judiciário, do Legislativo, do setor privado e do terceiro setor.  Era “tudo junto, ao mesmo tempo, com foco nos mesmos lugares”.

Em assim agindo, sistematizávamos as demandas voltadas para a prevenção primária à violência, abordando áreas temáticas como Educação,  Justiça,  Direitos Humanos,  Assistência Social, Geração de emprego e renda, Moradia, Infraestrutura,  Saúde, Esporte, Turismo e Cultura.

Com isso, a violência passou a ser tema transversal aos planejamentos de todas as esferas executivas, focando nos cuidados à mulher e à criança, em educá-las, em dar-lhes moradia com saneamento, em protegê-las, em mediar conflitos em suas famílias etc.

Como subproduto, se confirmou que a prevenção era até sete vezes mais barata do que incrementar a repressão, que, claro, continuava necessária.

Portanto, as causas que levaram o estudante a cometer esse ato de violência na escola, não são só as sobre bullying, saúde mental, falta de psicólogo, problema familiar, exposição a grupos de ódio ou a militâncias armamentistas.

Segurança nas escolas é a ponta de causas ainda mais complexas e abrangentes, que devem ser abordadas de forma integrada.

Como é provável que daqui a pouco a tragédia da escola de São Paulo caia no esquecimento, assim também é lamentável que todo esse trabalho aqui descrito tenha sido descontinuado.

Professores, alunos, famílias continuarão vulneráveis à violência.

Que mantenhamos nossa indignação!

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