No dia de Natal de 1991, em uma cerimônia transmitida por satélite para o mundo inteiro, Gorbachev, que estava há seis anos no poder, renunciou à presidência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com um discurso que percorreu o globo.
Então, a bandeira com a foice e o martelo foi retirada do Kremlin, e a bandeira da Federação Russa foi colocada em seu lugar.
A URSS deixava de existir, após décadas sendo a única potência que poderia rivalizar com os Estados Unidos.
Para muitos, isso marcou o fim do poder comunista e da Guerra Fria.
Naquele exato momento, o que havia sido, por décadas, o maior Estado comunista da história foi oficialmente dividido em 15 repúblicas independentes: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão. Assim, nascia a Comunidade de Estados Independentes (CEI).
Antes desse momento, Gorbachev vinha negociando o Novo Tratado da União, que buscava manter a maioria das repúblicas dentro de uma federação mais flexível — a única maneira de salvar a URSS.
Essa proposta foi rejeitada pelos comunistas conservadores, pelo Exército e pela KGB (a agência de inteligência soviética), e, então, Gorbachev foi colocado em prisão domiciliar, na Crimeia.
Mas o golpe fracassou após uma campanha de resistência civil liderada, em Moscou, por Boris Yeltsin, que emergiu como o novo líder.
Foram muitas as razões que levaram às frustrações com o governo de Gorbachev e ao colapso da URSS.
A economia foi o maior de todos os problemas. A URSS praticava uma economia planificada (o Estado decidia o que e quanto produzir e o quanto cada cidadão precisava), ao contrário da economia de mercado da maioria dos outros países.
É verdade que os gastos com as corridas espacial e armamentista foram altos e eram pagos com petróleo e gás. No entanto, os preços do petróleo despencaram nos anos 1980, e a inflação disparou.
Manter a coesão estava difícil. A URSS era um estado multinacional, sucessor do Império Russo. Consistia em 15 repúblicas, teoricamente iguais, mas, na realidade, a Rússia era a maior e mais poderosa, e a língua e a cultura russas dominavam muitas áreas. Com as diferenças, surgiram demandas das repúblicas por libertação do bloco.
Foi também inevitável a comparação com o Ocidente. Durante anos, os soviéticos foram informados de que o Ocidente estava decadente e sofria com a pobreza e a degradação sob governos capitalistas, ideia que foi sendo cada vez mais questionada. Até que os cidadãos puderam ver que, em muitos outros países, havia um padrão de vida melhor e mais liberdade individual.
Outro aspecto importante foi a perda da liderança. Gorbachev se tornou um herói para o mundo exterior, mas, em casa, era criticado pela falta de iniciativa. Como resultado, ele perdeu a liderança para Yeltsin.
Fato é que, mais de 30 anos após a dissolução da URSS, permanece a tensão entre a Rússia (lutando para manter seu papel central e de influência) e os países que faziam parte do bloco socialista.
Exemplo disso são as relações tensas entre Moscou e os Estados Bálticos, a Geórgia e, mais recentemente, a Ucrânia, moldando a geopolítica da Europa.