Cunha Couto

Gestor de Crises

Marítimos e navios abandonados: uma crise em escalada

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Trata-se de um assunto completamente desconhecido da mídia em geral: o vergonhoso abandono de alguns marinheiros das Marinhas Mercantes!

Durante a crise da Covid-19, quando os países fecharam suas fronteiras e negaram aos marítimos o direito de desembarcar, cerca de 400 mil marinheiros ficaram presos em seus navios após cumprirem seus contratos. Era o início dos abandonos por vários de seus armadores. Há poucos meses, falamos dos ataques dos Houtis a navios singrando o Mar Vermelho. Vale recordar que a primeira vítima desses ataques foi o navio True Confidence, com bandeira de Barbados, atingido por um míssil, ocasionando a morte de três marinheiros. Essa é uma faceta do risco a que estão expostos os profissionais da Marinha Mercante. Mas há outra, igualmente mortal, referente a marítimos enfrentando dificuldades devido a proprietários que os estão abandonando junto aos seus navios, o que está sendo conhecido como a “frota das sombras” (cerca de 1.400 navios antigos, mal conservados e de proprietários que não utilizam seguros ocidentais, mudando frequentemente de registro de bandeira). Assim, há um número crescente de marítimos sendo abandonados pelos proprietários de seus navios, ficando presos a bordo, por meses ou mesmo anos. Isso ocorre porque, de acordo com as regras marítimas, os armadores não podem simplesmente ignorar seus navios e tripulações – mas muitos o fazem. No entanto, essas regras marítimas também impedem a tripulação de abandonar seus navios, exceto nas circunstâncias mais extremas – essencialmente, apenas se o navio estiver afundando. Portanto, as tripulações ficam presas a bordo. Durante esse período, o estado do navio se deteriora, não há manutenção de equipamentos e os marítimos geralmente não são pagos. Um pequeno alento vem das autoridades portuárias, da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) e de instituições de caridade como a Mission to Seafarers, na forma de alimentos, água e outras necessidades.

De acordo com um relatório da ITF, 132 navios foram abandonados pelos seus proprietários em 2023. Tomei conhecimento de toda essa situação por meio de um artigo de Elisabeth Braw, membro sênior do Atlantic Council e colunista do noticiário POLÍTICO. Em seu artigo, Elisabeth nos mostra alguns exemplos do fim de 2023: Em 18 de dezembro, 11 marinheiros indonésios que trabalhavam no navio Grand Sunny, com bandeira da Serra Leoa, perceberam que o proprietário do navio já não podia ser contatado e ficaram retidos no porto chinês de Nansha. Esses marinheiros estão presos desde então. Além disso, não há informações sobre o proprietário do navio, a Thousand Star International Ltd. No porto francês de Lorient, três marinheiros georgianos estão presos em seu navio quebra-gelo com bandeira da Tanzânia desde 7 de dezembro. No porto italiano de Messina, cinco ucranianos e um russo estão presos no cargueiro Bella, de bandeira camaronesa, há quase três anos. Fica, portanto, o alerta a todos os portos e ancoradouros: há marítimos a bordo para manterem navios seguros, mas de forma aviltante, longe de suas famílias e abandonados pelos proprietários dos navios.

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