Cunha Couto

Gestor de Crises

Haiti e as gangues

CCBlog 153

A primeira república negra livre do Ocidente vive nova crise. Desde o terremoto ocorrido em 2010 até a atual escalada da violência pelas gangues, o Haiti vem pedindo socorro internacional.

No dia 12/1/2010, um terremoto golpeou a nação mais pobre do continente, resultando em cerca de 300 mil mortos. O número de pessoas afetadas pelo terremoto foi de cerca de três milhões (um terço dos habitantes do Haiti).

Nessa ocasião, muitas promessas de ajuda internacional foram feitas, mas não se concretizaram, após a mídia retirar seus holofotes dessa tragédia.

Para piorar, em 2017, ao fim de treze anos, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, MINUSTAH, retirou-se do país.

Depois, como era de se esperar, diante de tanta desigualdade no Haiti, a pandemia da Covid-19 fez aumentar ainda mais os seus já grandes índices de pobreza.

Agora, em 2024, na pós-pandemia, em que seria necessário o retorno à vida normal da população, eis que o Haiti vive grave crise de segurança pública, com a ação de gangues que, nos últimos anos, foram responsáveis por desestruturar a política do país em decorrência do assassinato do então Presidente Jovenel Moïse, em 2021.

No início de março de 2024, gangues coordenaram ataques conjuntos tendo como alvo as principais infraestruturas críticas do país. Após atos violentos, o governo haitiano decretou estado de emergência de 30 dias e toque de recolher para seus cidadãos. Com o escalonamento da crise, houve a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry e a instauração de um conselho presidencial de transição, que será responsável pela eleição de uma nova liderança interina.

No âmbito político, questiona-se sobre uma possível ascensão política de líderes paramilitares.

O quadro é grave. Segundo a ONU, cerca de 200 gangues estão em atividade atualmente, possuindo o controle de 80% da capital, Porto Príncipe.

Essas gangues locais são as principais causadoras de criminalidade e violência na região, e, ainda, pela pirataria marítima, com casos de sequestros de embarcações.

Como reagir? Há décadas que o Haiti não tem um exército permanente ou uma força policial nacional eficaz. Sem uma tradição dessas instituições, os líderes haitianos têm utilizado civis armados como instrumentos para exercer o poder; o Estado tornou-se fraco; e as gangues estão prestes a ocupar o poder.

E há toda uma mescla de extorsões, pois as gangues, políticos e empresários haitianos ganham dinheiro com uma mistura ilícita de “impostos”, sequestros e contrabando de drogas e armas.

Diante desse triste quadro, estima-se um novo êxodo de haitianos, que buscam pela sua sobrevivência em outros países.

A população haitiana não mais crê nas propostas de vários países na ONU, uma vez que intervenções externas para resolução de crises no país sempre fracassaram.

Por fim, a deterioração da segurança pública do Haiti é grave e revela a vulnerabilidade e a incapacidade do Estado em solucionar sua crise interna.

Fica-nos claro, portanto, que o Haiti necessita de auxílio para além do âmbito de segurança.

A catástrofe do terremoto e a atuação das gangues no Haiti bem servem para nos demonstrar que há situações em que os aparatos de emergência, de defesa civil e de segurança de um Estado não são suficientes frente às dimensões das consequências dessas crises.

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