É estarrecedor que, em pleno século XXI, ainda sejamos obrigados a assistir — quase como espectadores impotentes — à prática de crimes de guerra, muitas vezes noticiados como meros desdobramentos de conflitos, e com pouquíssima ou nenhuma resposta efetiva de organismos internacionais.
A barbárie, infelizmente, não foi sepultada nos livros de história.
Crimes de guerra são definidos pelo direito internacional como violações graves cometidas durante conflitos armados, especialmente aquelas que atingem diretamente civis ou estruturas não militares. A Convenção de Genebra, em 1949, deixou isso claro ao tipificar como inaceitáveis atos como tomar civis como reféns ou lançar ataques deliberados contra populações desarmadas.
Aplicar esses critérios ao atual conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas expõe violações gritantes de ambos os lados.
No ataque de 7 de outubro de 2023, o Hamas, um grupo armado que não representa um Estado, capturou civis israelenses como reféns — um ato indefensável e condenado por qualquer padrão humanitário.
Contudo, a resposta israelense, sob o pretexto de combate ao terrorismo, tem multiplicado a tragédia em uma escala desproporcional e indefensável. Um dos episódios mais chocantes ocorreu neste 3 de junho, quando pelo menos 27 palestinos morreram e cerca de 100 ficaram feridos durante um ataque israelense a um ponto de distribuição de ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza — o terceiro ataque similar em apenas três dias, resultando em mais de 50 mortes no total.
Pessoas mortas à espera de comida! Que tipo de “zona de combate” é essa em que a fome vira sentença de morte?
O mais alarmante é que a ajuda humanitária estava sendo distribuída por uma organização dos EUA, sem qualquer envolvimento direto da ONU, que, por sua vez, limitou-se a classificar a ação como “crime de guerra”, sem maiores consequências práticas.
Não faltam histórias de horror para ilustrar a face mais sombria desta guerra. O caso do médico palestino Hamdi al-Najjar, que perdeu nove de seus dez filhos em um ataque israelense, e morreu dias depois, resume o custo humano desta guerra para os inocentes. A justificativa de que o local era uma “zona de combate previamente evacuada” soa cada vez mais como retórica vazia diante da repetição sistemática de tragédias.
Enquanto isso, a comunidade internacional assiste, condena em notas formais e segue sua rotina diplomática. Há um abismo entre o que é dito e o que é feito. E, neste silêncio institucionalizado, o que ecoa são as vozes sufocadas sob os escombros de Gaza.
Quando o mundo falha em agir, falha também em preservar sua própria humanidade.