Em 2014, no dia 21 de março, o Presidente Vladimir Putin assinou lei que tornou a Crimeia parte da Rússia. Em outros termos, foi revertida a transferência da Crimeia da Rússia para a Ucrânia, ocorrida em 1954, no regime soviético.
A história dessa estratégica península exemplifica as constantes mudanças de fronteiras nessas regiões do extremo leste europeu. Entre 1854 e 1856 essa área foi palco da “Guerra da Crimeia” que opôs um império czarista em expansão a uma coligação de franceses, ingleses, sardos e otomanos.
A Crimeia, que era uma República na primeira União Soviética (1922), foi elevada, por Stalin, a ‘oblast’ (região) em junho de 1945. Em 1954, sob a liderança de Nikita Khrushchev, o Oblast da Crimeia da URSS foi transferido para a República Socialista Soviética Ucraniana, em um “gesto simbólico” durante a comemoração dos 300 anos da unificação da Rússia com a parte oriental da Ucrânia.
No decurso da implosão da URSS, os habitantes da península são convocados, em 1991, para um referendo com elevada participação no qual mais de 90% se pronunciam pelo restabelecimento de uma Crimeia independente, separada da Ucrânia. Kiev recua na decisão, e anula o referendo.
Os sentimentos separatistas na Crimeia continuaram sendo contrariados por Kiev, apesar de garantir o estatuto de “República autónoma”, até que em 2000 Putin chega ao poder na Rússia e adota uma posição mais firme frente aos nacionalistas ucranianos, que defendiam uma aproximação à União Europeia e ao seu braço armado – a Otan.
Quando Putin assinou, numa cerimônia no Kremlin, a lei que concluía o processo de anexação, estavam legitimadas mais duas entidades administrativas russas: a Crimeia e a cidade portuária de Sebastopol, essa com uma base naval russa que é a saída por “águas quentes” do Mar Negro durante o inverno no hemisfério Norte.
No dia 24 de março de 2014, a Ucrânia ordenou a retirada de suas tropas da Crimeia, depois da tomada da base naval por tropas russas. O rublo também passou a ser oficialmente a principal moeda em uso da Crimeia.
Note-se que a Crimeia foi anexada à Rússia, em 2014, após um novo referendo contestado pelos aliados de Kiev e pelas instâncias internacionais, algo similar às consultas, também não reconhecidas internacionalmente, nas regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk (no Donbass), Kherson e Zaporijia, anexadas em setembro de 2022. Hoje, em pleno conflito Rússia-Ucrânia, que já dura dois anos, desde a “operação especial” russa em 2022, a anexação da Crimeia pela Rússia, declarada ilegal por Kiev, permanece uma questão central no conflito entre os dois países vizinhos. Desde o início da crise da Crimeia em 2014, a União Europeia e os EUA impõem variadas sanções contra a Rússia, com poucos resultados práticos.
No dia 24 de março, a Ucrânia ordenou a retirada de suas tropas da Crimeia, depois da tomada da base naval em Feodosia por tropas russas. O rublo também passou a ser oficialmente a principal moeda em uso da Crimeia. Em 27 de março, a Assembleia Geral da ONU passou uma resolução (sem peso) declarando que o referendo realizado na Crimeia era inválido. Dos 193 Estados-membro, 100 votaram a favor da resolução, 11 contra e 58 se abstiveram. Três semanas depois, em abril, o parlamento ucraniano aprovou um decreto que afirma que consideraria a região como “zona ocupada” pela Rússia e impôs restrições para viagens para a península. Em 9 de maio, houve uma parada da vitória em Sebastopol para celebrar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Houve forte presença militar russa e bandeiras do país foram hasteadas em várias localidades da cidade. Enquanto o governo russo afirma que a situação na península da Crimeia está melhor e que a vida da população voltava ao normal, grupos de direitos humanos discordavam. Segundo eles, a violência na região continuava, com sequestros, assaltos e estupros. Também havia forte repressão contra manifestações anti-Rússia ou contra a anexação. Vários ativistas pró-Ucrânia teriam sido presos.