Cunha Couto

Gestor de Crises

A quem subordinar o gerenciamento de crise?

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Como podem todos imaginar, estamos lidando com o termo “crise” na grande escala, sem a banalização do seu uso coloquial. Estamos, pois, tratando de um fenômeno capaz de afetar a segurança das instituições, aqui relacionada aos negócios, imagem, reputação etc. Cumpre, portanto, indagar a quem devemos subordinar, diretamente, uma unidade ou núcleo de gerenciamento de crise na estrutura organizacional.

Como ponto de partida, é interessante notar que existem crises com potencial de abalar a “segurança institucional” e que não são de natureza política. O exemplo, simbólico, por que passamos é o do “Bug do Ano Dois Mil”, que hoje pode ser motivo de chacota, mas cujo potencial de desorganizar a vida da Nação não poderia ter sido ignorado.

Outro exemplo do que poderíamos classificar como “crise técnica ou dos sistemas” foi o baixo nível dos reservatórios de água nas hidroelétricas, em 2001 – uma crise hídrica-energética.

A exemplo do que ocorreu em 2001 e em outros anos (inclusive em 2021), com a retomada do crescimento industrial, a demanda crescente por energia aumenta e, caso ocorra escassez de chuvas no ano anterior, os reservatórios estarão com níveis insatisfatórios. Em outras palavras, tudo indica que, nesse caso, ou se pagará mais pela energia ou poderão vir a ocorrer cortes programados para reduzir a sua oferta.

Para esse tipo de crise, que corresponde a uma falha de equipamentos ou de sistemas, a regra, em geral, é colocar o núcleo de gerenciamento o mais próximo da área com conhecimento técnico.

Contudo, as crises que mais afetam a segurança institucional são normalmente de natureza política e não técnica.

Por vezes, a mídia reporta como técnico um fato crítico de fundo político. Como bem diferenciar (se isto tem importância…) uma natureza política de uma técnica? Tentemos explicar por meio de exemplos, mostrando em que implicam cada uma destas naturezas.

Em uma das greves dos caminhoneiros havia um debate “técnico” sobre o custo do pedágio por eixo de caminhão e sobre a percentagem do peso excessivo a ser ignorado. Contudo, a greve tinha, por outro lado, um fundo político, com uma categoria reivindicando tratamento especial e uma fatia maior dos lucros de uma determinada atividade econômica.

Já no caso das celebrações do Quinto Centenário do Descobrimento do Brasil, em Porto Seguro/BA, as suas motivações políticas não poderiam ter sido mais transparentes, com reivindicações de grupos indígenas. Esta mesma situação ocorre nos casos de invasões de prédios públicos por movimentos sociais.

Coordenação política

Em outros termos, para “crise” de natureza política, observa-se a inoperância de colocar o núcleo de gerenciamento de crise na instituição com responsabilidade técnica mais imediata: uma greve dos caminhoneiros não pode ser bem gerida a partir apenas do Ministério dos Transportes.

Na prática, na maioria das vezes, uma crise exige, na resposta da alta direção, recursos oriundos dos mais diversos setores. Faz-se necessário, portanto, uma coordenação política e que, pela sua hierarquia, pode apenas estar no topo da estrutura institucional.

Nem seria preciso mencionar que, em crise de maior gravidade, de âmbito nacional, surge o cenário do emprego da força militar como “ultima ratio” governamental, opção esta que só pode ser acionada pelo Comandante das Forças Armadas, o Presidente da República.

Conclusivamente, excluindo as crises de fundo técnico, a natural subordinação do gerenciamento de uma crise é na presidência ou na mais alta direção da instituição, que é quem abriga a última instância de responsabilidade política.

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