Cunha Couto

Gestor de Crises

A destruição de uma reputação

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No acompanhamento de um tema gerador de crise, é fundamental certificar-se da veracidade das informações que estão chegando para a tomada de decisão. Esse cuidado também se aplica aos assessores, uma vez que, ainda mais neste mundo de “especialistas”, há os que sabem do tema e há os que dizem que sabem, mas não sabem… Esse cuidado é mais crítico quando envolve a reputação de uma pessoa ou de uma instituição.

Há 30 anos, no dia 28 de março de 1994, uma denúncia de um suposto abuso sexual na Escola Base, no bairro Aclimação, na região central de São Paulo, mudaria para sempre a vida dos donos do local e seria um dos maiores erros do jornalismo brasileiro, por disseminação de acusação infundada. Os proprietários e funcionários dessa escola foram denunciados injustamente, acusados de abuso sexual de crianças de quatro anos, alunos do local.

O caso: duas mães de alunos notaram comportamentos estranhos de seus filhos, alunos da Escola Base, e prestaram queixa na Delegacia contra seis pessoas, acusando-as de orgias com crianças no apartamento de pais de um dos alunos. O Delegado enviou as crianças para o Instituto Médico Legal e conseguiu um mandado de busca no tal apartamento. Nada foi encontrado no apartamento e o laudo do IML era inconclusivo, mas dizia que as crianças apresentavam lesões que podiam ser de atos sexuais. As mães recorreram à mídia e o delegado, envaidecido pelos holofotes, deu declarações dúbias à imprensa. Como consequência, foi dado grande destaque ao caso e os acusados passaram, então, a serem vistos como culpados pela opinião pública, antes de julgamento e antes de confirmada a veracidade das acusações.

Ao fim e ao cabo, a verdade veio à tona. As provas de inocência começaram a aparecer, bem como depoimentos em defesa dos acusados, e estes foram inocentados. Todavia, o estrago estava feito. Fake News mancharam a vida dessas pessoas: suas reputações foram destruídas, mesmo após serem inocentadas. Os danos psicológicos, materiais e morais aos acusados foram enormes, além das finanças de todos arruinadas. A cobertura da imprensa foi vista como parcial e, ao final, os meios de comunicação declararam que as investigações foram encerradas por falta de provas, mas omitindo que os acusados eram inocentes.

O caso da Escola Base se tornou objeto de estudo em diversos cursos, pois esclarece sobre responsabilidades na destruição de reputações. Hoje, com o advento das redes sociais, fica ainda mais fácil manchar a imagem de alguém. Talvez o ocorrido na Escola Base possa servir de exemplo do que não fazer.

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