Acabo de ler instigante artigo de João Afonso Batista, antropólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), que é associado ao Sistema Científico Nacional e dedicado à investigação, aos estudos pós-graduados e à divulgação de ciência em diversas áreas (www.ics.ulisboa. pt).
Em sua análise, o artigo entende que os desafios ambientais são desafios sociais e o oceano está no centro dos dois.
Aos cientistas do oceano, é-lhes pedido, portanto, que difundam o porquê e como devemos viver em função do oceano, entendido como essencial para o mundo e para a vida humana.
Tive essa consciência quando servi a bordo de nosso navio-oceanográfico “Almirante Saldanha”.
O oceano é geralmente interpretado como um espaço diferente, tanto que para nós, marinheiros, existem três tipos de pessoas: as vivas, as mortas e as que vivem no mar. Para os oceanógrafos, “as que estão no oceano”.
Em tempos em que a degradação ambiental, as mudanças climáticas e a ânsia por mais e novos recursos naturais põem em xeque a sustentabilidade do planeta, os países— sobretudo os costeiros – passam, finalmente, a se interessar pelo oceano, a última fronteira que falta conquistar na Terra.
Nesse sentido, as Nações Unidas proclamaram 2021-2030 como a Década da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável, atribuindo, assim, aos cientistas do oceano essa missão de mediação com a sociedade.
Na verdade, a ubiquidade salina do oceano é uma imagem que não se cinge ao pensamento poético. Para os cientistas do oceano em Portugal, o oceano estende-se nos ventos, nas nuvens, no oxigênio, na chuva e na neve que gera.
Estes “prolongamentos” oceânicos transitam para o espaço emerso e para dentro dos corpos humanos, através do ar que respiramos, da água que bebemos, da comida que ingerimos.
Também para os biólogos, o oceano sustenta-nos e toda a vida no planeta, pois regula o clima, absorve o dióxido de carbono, determina a qualidade do ar e sustenta a biodiversidade.
Muitos cientistas defendem que o oceano é o berço da vida. De acordo com essa tese, a vida na Terra começou há́ cerca de 4,5 mil milhões de anos.
O planeta estava então coberto por um grande oceano — quente, ácido e rico em ferro — e com pequenas zonas rochosas emersas aqui e ali. A atmosfera continha, sobretudo, carbono e nitrogênio. Não havia oxigênio. Não havia vida.
Foi então que, das profundezas do oceano, surgiram substâncias químicas que, ao subirem pelas águas quentes, possibilitaram a gestação de moléculas orgânicas simples que geraram outras moléculas, cada vez mais complexas, até que finalmente surgiram moléculas capazes de carregar DNA – as primeiras formas de vida a crescer, dividir-se e evoluir.
Mas, hoje, para o antropólogo João Afonso Batista, os oceanos estão em risco.
O aquecimento das águas do oceano e a sua acidificação, o aumento da poluição marinha, a subida do nível do mar, a sobrepesca, a redução da biodiversidade e a mineração no solo oceânico estão tomando proporções catastróficas, pondo em risco as condições de vida no planeta. E é a atividade humana que está causando esses males; ou seja, a degradação do oceano.
Sendo assim, a conduta humana tornou-se uma área de intervenção para os cientistas do oceano, que se perguntam: “como podemos nos redimir do mal que já causamos?”.
A mensagem final do artigo é-nos clara: o oceano estende-se muito para além das suas águas. Há que ser cuidado, para o nosso próprio bem.