Quando iniciamos a implementar um Gabinete de Crises na Presidência da República, precisamos, é claro, primeiramente, entender sobre quais crises estávamos falando e de quais crises cuidaríamos. Todos percebemos que o termo “crise” vem sofrendo um processo de banalização. Raro é o noticiário que não utilize esta palavra pelo menos uma vez em sua edição. Tudo, ou quase tudo, parece poder acomodar o epíteto de crise.
Crise e “weiji”
Já que estamos no campo linguístico, à época era difundido pelas consultorias que, em diversos idiomas orientais, não há uma distinção clara entre os conceitos de “crise” e de “oportunidade”. E se dizia que, no chinês, o mesmo ideograma representa as duas ideias e o tradutor para um idioma ocidental escolherá o significado que lhe parecer mais apropriado.
Coube a Sérgio Rodrigues, em junho de 2011, em sua coluna, desmistificar que o termo chinês weiji, que significa “crise”, seria um ideograma formado pela junção de dois outros: o negativo wei (perigo) e o ji (oportunidade).
Por essa dualidade, creditaríamos o sucesso ou não de um gerenciamento de crise à forma como o weiji era administrado.
Na verdade, a palavra ji significa “momento crucial”, e isso bem define uma crise.
Em resumo, apesar de se acreditar que toda crise abre oportunidade, inclusive isso tendo sido publicado em editorial de um jornal americano, não é verdade que esse conceito tenha origem em palavra chinesa.
Interessante observar que, na fase de gerenciamento de uma crise, um planejamento se faz necessário e aí, no ambiente externo à instituição, na matriz SWOT, aparecem as oportunidades, agora confrontadas com as ameaças em jogo.
Como lidar com a crise
De qualquer forma, com as nossas experiências gerenciando crises, há, sim, uma lição prática a observar: a “crise” não deve ser vista como algo apenas negativo. Todo momento de crise traz embutido nele também uma oportunidade, seja de crescer, a de rever conceitos e métodos, a de mudar pequenos aspectos… até o mundo. Na gestão de crises, este lado “positivo” do fenômeno, muitas vezes, é o que perdurará da ação governamental.
Em suma, há que se estar atento às “oportunidades”, explorá-las, e não deixar de buscar entrever que toda crise não é fenômeno tão somente negativo.