Na conjuntura internacional atual, organizações de cooperação em defesa podem se constituir como importantes atores políticos?
Três temas disruptivos recentes demonstram bem os novos desafios enfrentados pelos principais atores políticos: a pandemia da Covid-19, as mudanças climáticas e os conflitos na Ucrânia e em Gaza.
Um estudo do professor Edilson Adão, colega da Facamp, levou-me a refletir sobre essa pergunta — ainda mais porque a guerra na Ucrânia recolocou o tema em evidência, trazendo novas configurações, como as que ocorreram na OTAN.
Num mundo com um número crescente de conflitos e multipolarizado, é natural que organizações de cooperação em defesa proliferem.
A reconfiguração da OTAN era de se esperar, uma vez que a ameaça que motivou sua criação (a URSS) deixou de existir com a queda do Muro de Berlim. Desde então, a OTAN vem buscando atuar em qualquer parte do mundo, com motivações discutíveis.
Aqui na América do Sul, não vejo uma ameaça que nos una em torno de uma organização como a OTAN.
Houve até uma tentativa regional sul-americana com a criação da UNASUL, que previa, entre seus pilares, um braço militar.
Na prática, o que continua existindo entre os países da América do Sul são vários acordos militares bilaterais.
É claro que há justificativas que favorecem a constituição de uma organização de defesa regional sul-americana. No entanto, existem dificuldades para que ela se concretize, além da ausência de uma ameaça comum a todos.
Uma dessas dificuldades é o predomínio de um conceito — não totalmente declarado — de que a cooperação regional deve servir à manutenção de uma área de paz, evitando, assim, sua militarização.
Outra dificuldade é a falta de definição sobre quem lideraria esse processo. Não há consenso, nesse sentido, entre os “grandes países da América do Sul”: Brasil, Argentina, Colômbia e Chile.
Por outro lado, talvez os novos desafios da nossa região — como os crimes transnacionais, o tráfico em geral e os cibercrimes — possam vir a ser catalisadores no sentido de nos organizarmos regionalmente em torno da Segurança.
Por fim, uma defesa regional possui hoje novos e diferentes objetivos, como garantir, para seus membros, o acesso à água, à energia e aos alimentos — motivos nem tão futuristas para que países entrem em conflito armado.