O terremoto de 1º/11/1755, em Lisboa, foi um desastre que mudou a história.
Lisboa era, então, a capital de um império colonial mundial que se estendia pela África (com Angola, Moçambique e Cabo Verde), passava pela Ásia (com Goa e Macau) e, claro, pela América (com o Brasil).
Há 269 anos, Lisboa foi destruída por um forte terremoto, mas das cinzas surgiu uma nova forma de pensar e uma nova ciência. Esse sismo, com magnitude entre 8,7 e 9 na escala de Richter, resultou na destruição quase completa da cidade e foi seguido por um tsunami e múltiplos incêndios, tendo causado mais de 10 mil mortes, o que gerou um enorme impacto na sociedade portuguesa e deu origem aos primeiros estudos científicos sobre os efeitos de um sismo, marcando o nascimento da sismologia.
Igualmente importante, o acontecimento foi amplamente discutido pelos filósofos: por que Deus permitia que Lisboa – uma das cidades mais religiosas da Europa – fosse castigada desse modo? Aquele dia, 1º de novembro de 1755, era o Dia de Todos os Santos, e às 9h30 da manhã muitos moradores da cidade estavam nas igrejas quando começou a se ouvir um ruído estranho e assustador vindo debaixo da terra, como o estrondo de um trovão. Era o terremoto.
A notícia do desastre em uma cidade tão importante como Lisboa espalhou-se rapidamente, agitando o pensamento da época. Como justificar tamanho sofrimento? Por um lado, a Igreja e seus fiéis procuravam culpados pela tragédia. Por outro, as grandes mentes da época, que começavam a ver o mundo de uma nova maneira e que mais tarde associamos ao Iluminismo, intensificaram suas reflexões.
Immanuel Kant publicou textos sobre o desastre, tentando explicar os terremotos por causas naturais, e não sobrenaturais. Rousseau escreveu uma carta em que argumentava que a fonte do sofrimento do povo lisboeta não era Deus, mas suas próprias ações: a forma como construíram a cidade e as motivações sociais dos moradores. “A natureza não construiu ali 20 mil casas de seis a sete andares. (…) Se os habitantes desta grande cidade vivessem mais dispersos, com maior igualdade e modéstia, os danos causados pelo terremoto teriam sido menores ou talvez inexistentes”, escreveu.
Assim, à medida que o debate avançava, a ciência emergia como uma maneira melhor de explicar o mundo e a maneira como ele funcionava. O terremoto foi, portanto, o marco do nascimento da sismologia. E, com isso, concluiu-se que o terremoto era fruto de causas geológicas, e não resultado de ira divina.
O dia 1º de novembro continuou sendo o Dia de Todos os Santos, data dedicada à celebração de todos os santos e mártires das igrejas cristãs, garantindo que aqueles que não têm uma data própria de festejo não sejam esquecidos. É feriado em Portugal, quando é costume visitar os túmulos de conhecidos e familiares.