Cunha Couto

Gestor de Crises

Surge uma aliança do Oriente contra o Ocidente?

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Com a reunião havida, na segunda semana de setembro, entre os presidentes da China e da Rússia, em Uzbequistão, iniciou-se, por meio da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX ou SCO, na sigla em inglês), uma “parceria sem limites” no bloco. Criada em 2001 pela China, a OCX reúne, a este país, a Rússia e quatro repúblicas da Ásia Central – Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tadjiquistão.

Para se ter uma ideia da importância desse encontro, foi a primeira vez que Xi Jinping fez uma viagem internacional desde o início da pandemia.

De olho na eleição para um 3º mandato, no congresso do Partido Comunista Chinês em novembro próximo, Xi Jinping valeu-se desse encontro para fortalecer sua imagem, enfraquecida internamente com a desaceleração econômica da China.

Um eixo geopolítico Pequim-Moscou faz sentido, uma vez definido um inimigo comum: os EUA e seus aliados ocidentais. Isso porque a Rússia é parceira muito importante para conter a influência internacional norte-americana.

Entretanto, um apoio chinês à Rússia é um dilema: como exercê-lo sem afastar os países da Ásia Central, alguns deles ex-URSS e que se sentem ameaçados depois da invasão da Ucrânia?

Por outro lado, as sanções ocidentais e as recentes derrotas na Ucrânia tornam ainda mais importante esse apoio da China à Rússia.

Ocorre que qualquer desses apoios à Rússia, seja econômico ou militar, pode vir a agravar e a colocar em risco a economia chinesa.

É claro que os ucranianos se recapacitaram no conflito graças aos EUA (a OTAN não tem recursos próprios; ela só operacionaliza os que lhe são colocados).

Algo similar poderia vir a ocorrer do lado russo com apoio velado chinês, apesar de não se crer, ainda, que a Rússia dependa de apoios militares externos para vencer a Ucrânia. Mas, uma guerra prolongada dependerá de apoios, e é quando surgem os blocos em cada lado do conflito.

Dessa forma, o “Ocidente”, configurando seus interesses, decidiu fazer uma guerra de desgaste contra a Rússia, com a Europa apostando no boicote econômico à Rússia. Só que os que estão com seus interesses vitais ameaçados são Ucrânia e Rússia… e países, quando encurralados, costumam partir para o tudo ou nada. A Rússia escalará no conflito? Ou aguardará, mais uma vez, o inverno chegar?

Será que o verdadeiro objetivo político de Putin ao invadir a Ucrânia seria a mudança da ordem internacional?

Nesse sentido, fato é que os diálogos entre Biden e Xi Jinping estão cada vez mais escassos, o que faz aumentar a tensão entre EUA e China. Pior, em procedimento típico de Guerra Fria, o embaixador dos EUA em Pequim foi convocado pela China, quando da visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara norte-americana, a Taiwan.

E dentre os discursos proferidos na ONU, esta semana, o de Joe Biden foi uma resposta direta às ameaças de emprego de armas nucleares por Putin: “uma guerra nuclear não pode ser vencida e não deve jamais ser lutada”.

Enfim, apesar de toda a propaganda e desinformação presentes na mídia internacional em torno do conflito Ucrânia-Rússia, concordo com a analista Jane Perlez, que publicou no The New York Times: “pode não ser uma nova Guerra Fria, mas parece…”

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