A história das transfusões de sangue nos conduz dos riscos aos avanços científicos.
Em 15 de junho de 1667, o médico francês Jean-Baptiste Denys, responsável pela saúde do rei Luís XIV, realizou a primeira transfusão de sangue documentada: introduziu sangue de ovelha em um garoto de 15 anos. O procedimento foi considerado, à época, um sucesso.
Animado com o resultado, Denys repetiu a técnica em outros pacientes, mas, sem o conhecimento necessário sobre compatibilidade sanguínea e os riscos das transfusões entre espécies, alguns deles vieram a falecer.
A experiência rapidamente se tornou alvo de críticas e suspeitas. A comoção foi tamanha que, apenas três anos depois, em 1670, a prática foi oficialmente proibida na França. A reputação de Denys ficou abalada, e ele acabou abandonando a medicina.
Somente dois séculos mais tarde, em 1902, o cientista austríaco Karl Landsteiner revolucionou o campo médico ao identificar os quatro grupos sanguíneos — A, B, AB e O —, tornando possível realizar transfusões seguras. Sua descoberta lhe rendeu o Prêmio Nobel e, mais importante, abriu caminho para que milhões de vidas fossem salvas ao longo das décadas seguintes.
Hoje, transfusões de sangue são procedimentos rotineiros, seguros e fundamentais em tratamentos hospitalares. A trajetória, porém, é um exemplo clássico de como o avanço científico exige coragem, estudo e, acima de tudo, responsabilidade. A ousadia de Denys foi pioneira, mas, sem base sólida, provocou tragédias. Já Landsteiner mostrou que ciência bem fundamentada é a verdadeira chave do progresso.