Cunha Couto

Gestor de Crises

Tarifas como Armas

CCBlog318

Podemos dizer que o “tarifaço” de Trump é uma guerra comercial por fases? Essa parece ser a lógica, adaptada da área militar norte-americana, para toda essa arena econômica global.

Vejamos: a doutrina militar dos Estados Unidos é sintetizada em cinco fases básicas — marcha para o combate, reconhecimento em força, ataque coordenado, aproveitamento do êxito e perseguição — e foi concebida para aplicar força de maneira planejada, estratégica e progressiva.

Desde a Guerra Fria, essa doutrina tem se apoiado no conceito de “escalada controlada”, partindo da premissa de que a força não deve ser aplicada de forma irrestrita desde o início, mas sim de maneira crescente, permitindo negociações e evitando retaliações.

Ao contrário disso, a política comercial de Trump parece romper com essa lógica, adotando tarifas como instrumentos de impacto quase imediato.

A “marcha para o combate” correspondeu ao momento em que o governo Trump passou a identificar déficits comerciais como ameaças à segurança nacional e a construir um discurso protecionista. Em seguida, veio o “reconhecimento em força”: tarifas pontuais, ameaças públicas e retórica agressiva, que serviram para testar a reação de países-alvo.

A resposta limitada desses países pode ter encorajado o avanço para o “ataque coordenado”: tarifas sobre o aço e outros itens, além de críticas públicas à condução política de nações específicas. Sem uma reação imediata, Trump passou ao “aproveitamento do êxito”, consolidando sua imagem de força perante seu eleitorado e ampliando seu controle sobre a pauta comercial bilateral.

Talvez estejamos agora na fase final: a “perseguição”, quando o atacante busca impedir qualquer reorganização do adversário.

Porém, em vez de cautela, construção de alianças e resposta calibrada, vemos uma política tarifária movida por instinto, nacionalismo econômico e imediatismo eleitoral.

A conclusão é que, nessa “guerra”, quem não conhece as regras do jogo — ou se recusa a jogá-lo — acaba enfrentando Trump no campo de batalha, com tarifas como armas.

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