A fé entre os jovens de hoje.
A canonização de Carlo Acutis, conhecido como o “primeiro santo millennial” da Igreja Católica, reacendeu o debate sobre a relação entre juventude e religião. O jovem italiano, morto aos 15 anos, tornou-se referência por usar a internet como meio de evangelização, documentando milagres eucarísticos e criando um site que ainda inspira fiéis. Sua santificação não é apenas um marco espiritual, mas também um sinal de que a Igreja busca se aproximar de uma geração que se distancia cada vez mais das práticas religiosas tradicionais.
O fenômeno ultrapassa fronteiras confessionais. Pesquisas recentes do Pew Research Center revelam que, em muitos países, a identidade religiosa vem diminuindo, sobretudo entre os jovens. Nos Estados Unidos, porém, a Geração Z mostra um movimento distinto: enquanto as mulheres se afastam mais da religião, os homens jovens tendem a se aproximar dela, invertendo uma tendência histórica. Esse padrão sugere que a fé pode ganhar novos contornos de gênero e implicações políticas.
No Brasil, os dados do IBGE indicam crescimento do grupo sem religião, especialmente entre jovens de 20 a 24 anos. Ainda assim, a expansão da população evangélica — cuja maior concentração se encontra entre crianças e adolescentes — aponta para um futuro em que o peso do protestantismo pode se tornar ainda mais decisivo na formação cultural e política do país.
O caso de Carlo Acutis e as estatísticas sobre religiosidade juvenil revelam um paradoxo: enquanto a secularização avança em alguns lugares, em outros, a fé encontra novas formas de expressão. A questão central é que a juventude continua buscando sentido — seja na religião, seja em alternativas espirituais ou seculares. A tendência de maior adesão masculina e o crescimento evangélico no Brasil sinalizam transformações que podem moldar não apenas a fé, mas também os rumos políticos e sociais das próximas décadas.
Resta saber se essas mudanças representarão uma renovação espiritual plural ou o reforço de um conservadorismo que, sob roupagem religiosa, poderá redefinir as fronteiras do debate público.