Já se passaram 1.000 dias de uma operação que, inicialmente, acreditava-se ser rápida.
Cada lado divulga as informações que lhes são mais favoráveis, mas o fato é que as forças de ambos estão exauridas.
Pode parecer que a incursão surpresa da Ucrânia em Kursk, cidade russa, foi um sucesso. Contudo, essa ação pode ter enfraquecido suas forças ao longo do campo de batalha no leste, deixando-as vulneráveis a novos avanços russos.
É claro que houve grande retaliação russa, com ataques à infraestrutura energética ucraniana, enquanto Putin aposta no enfraquecimento dos ucranianos diante do inverno. Há também a perspectiva de uma ofensiva para retomar Kursk, mobilizando 50.000 militares, incluindo 10.000 soldados norte-coreanos.
Enquanto isso, por um lado, o presidente eleito Donald Trump se prepara para assumir o cargo em 20 de janeiro, com o objetivo declarado de encerrar rapidamente essa guerra. Seu vice, J.D. Vance, afirmou ter elaborado um plano que permitiria à Rússia manter os territórios capturados da Ucrânia.
Por outro lado, o atual presidente Joe Biden segue apoiando a Ucrânia. Ele autorizou o uso de mísseis de longo alcance e outras armas americanas contra alvos em território russo — algo que antes só era permitido contra forças russas em territórios ucranianos ocupados. Inglaterra e França também aprovaram medidas similares.
Em resposta, o governo russo declarou que o uso de armamento contra seu território será considerado uma agressão direta dos EUA e da OTAN. Putin já assinou uma nova doutrina nuclear, ampliando as situações em que o arsenal atômico russo pode ser utilizado.
O tempo joga contra todos os envolvidos: já são dois anos e nove meses de guerra. Até quando isso continuará?
Na Ucrânia, cresce a preocupação com a grave crise social e humanitária que um novo inverno pode agravar, com redes elétricas e de água destruídas em grande parte do país. O exército, agora formado por soldados mais velhos — já que muitos jovens morreram ou emigraram —, recebe treinamento básico para operar novas armas, e há relatos de desertores.
Com Trump ou sem Trump, até quando Europa e EUA estarão dispostos a financiar, com centenas de bilhões de dólares anuais, uma guerra sem objetivo final claro? Afinal, derrotar militarmente a Rússia ou depor Putin não é um objetivo minimamente viável.
Uma recente pesquisa da Gallup mostra que, pela primeira vez desde o início do conflito, 52% dos ucranianos desejam uma negociação para encerrar a guerra o mais rápido possível, enquanto 38% acreditam que é necessário continuar lutando até vencer.
Isso evidencia que talvez a população ucraniana já não tenha mais forças para sustentar a guerra. O sentimento de que se trata de um conflito desnecessário, causando destruição material e milhares de mortos e feridos, cresce cada vez mais.
Zelensky enfrenta uma situação delicada: não atingiu nenhum dos objetivos políticos traçados para a guerra e deixará uma Ucrânia menor e mais pobre. Em breve, poderá perder o apoio de Joe Biden, e a recente autorização para o uso de mísseis americanos de longo alcance poderá ser revogada por Trump.
Já a Rússia, ao fim de tudo, ganhará a anexação de 20% do território ucraniano no presente, mas perderá no futuro, devido ao rompimento de laços com a Europa e à dependência escancarada da China.
A Ucrânia perdeu.
A Europa perdeu.
Os EUA perderam.
E a China ganhou.