O degelo nos polos deixou de ser tema restrito a ambientalistas. No Ártico, a redução das calotas abriu novas rotas marítimas, revelou reservas de petróleo e gás e colocou a região no centro de uma disputa estratégica entre Estados Unidos, Rússia e China.
Cada um se prepara de uma forma distinta. Moscou mantém a maior frota de quebra-gelos do mundo e tropas adaptadas ao frio extremo. Pequim se autodenomina “Estado próximo ao Ártico” e, em 2018, lançou a Rota da Seda Polar em parceria com os russos. Já Washington reforça sua presença no Alasca e na Groenlândia, território que Donald Trump chegou a manifestar interesse em adquirir.
Nesse cenário, a segurança ártica, antes associada apenas à Guerra Fria e ao risco nuclear, hoje envolve também comércio, energia e meio ambiente. Além disso, o derretimento do permafrost reduz a absorção de carbono, amplia incêndios florestais e pode liberar vírus adormecidos. Paralelamente, a elevação do nível do mar ameaça milhões de pessoas em cidades costeiras.
A Antártica, por sua vez, segue protegida por tratados internacionais, mas cresce a pressão sobre seus recursos. O Brasil, sétimo país mais próximo, não pode ignorar os impactos que atingem tanto a Amazônia Azul quanto o Atlântico Sul.
As geleiras derretendo são, portanto, um alerta. Se o mundo insistir em priorizar rivalidades estratégicas em vez da cooperação, o Ártico e a Antártica podem se transformar em novos epicentros de crises — ambientais, migratórias e militares.