Com esses cortes, a ajuda humanitária caiu sensivelmente. A Organização das Nações Unidas lançou seu apelo humanitário para 2026 com uma meta de US$ 23 bilhões – cerca da metade do valor previsto para 2025. A redução reflete a queda nas contribuições internacionais e obriga a agência a adotar uma estratégia de contenção: priorizar apenas as situações mais extremas.
Em um cenário global marcado por guerras prolongadas, eventos climáticos severos e surtos epidêmicos, a ONU estima que 240 milhões de pessoas necessitem de assistência, mas o plano atual contempla apenas 87 milhões de casos considerados críticos. Gaza concentra a maior fatia dos recursos solicitados (US$ 4 bilhões), seguida por Sudão e Síria.
O chefe de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, descreveu o momento como um “dilema brutal”, afirmando que o sistema humanitário está sobrecarregado, subfinanciado e cada vez mais exposto a ataques. Reportagens da BBC e da Al Jazeera ressaltam que, apesar dos cortes drásticos determinados por Donald Trump, os Estados Unidos seguem como o maior doador individual, embora sua participação tenha caído para 15,6% do total.
Essa retração ameaça diretamente programas de alimentação, saúde e proteção em dezenas de países. Diante disso, a ONU busca ampliar o apoio do setor privado e da sociedade civil.
A redução do apelo humanitário revela, portanto, mais do que um problema orçamentário: expõe a erosão da solidariedade internacional em um mundo de crise permanente. Quando a ajuda passa a ser racionada entre tragédias concorrentes, normaliza-se o inaceitável – decidir quem merece sobreviver. Assim, sem um compromisso político renovado dos Estados e novas formas estáveis de financiamento, o sistema humanitário corre o risco de se tornar um instrumento de gestão da escassez, e não de proteção da dignidade humana.