Nos Estados Unidos, o governo Trump adotou medidas duras contra embarcações suspeitas de tráfico internacional de drogas. A operação, amplamente divulgada, foi apresentada como um esforço contra o chamado “narcoterrorismo”. Essa narrativa sugeria que cartéis atuariam como grupos terroristas, embora sua motivação seja essencialmente econômica e criminosa, e não política ou ideológica.
No Brasil, a recente megaoperação no Rio de Janeiro, voltada ao enfraquecimento do Comando Vermelho, repetiu o mesmo erro conceitual. Embora altamente organizado e violento, o Comando Vermelho visa ao lucro obtido com atividades ilegais, sem qualquer intenção de subverter a ordem por meio de uma pauta política ou religiosa — elemento essencial do terrorismo.
Classificar o tráfico como terrorismo pode até justificar ações mais duras, mas distorce conceitos jurídicos e abre espaço para abusos. Na prática, combater o crime organizado requer inteligência policial, controle de fronteiras, cooperação internacional e políticas públicas eficazes nas comunidades afetadas. Misturar narcotráfico com terrorismo pode render manchetes fortes, mas não enfrenta as causas reais do problema — e ainda enfraquece o debate sobre o verdadeiro terrorismo.