Um dos mitos brasileiros é o de que nossa terra é abençoada e, por isso, não fomos castigados, como o restante do mundo, por terremotos, vulcões, tsunamis ou tempestades de neve.
A força desse mito resiste até mesmo a fatos, como mortes por inundações em tantos estados brasileiros. Preferimos ver tais catástrofes apenas como incúria das prefeituras.
A experiência acumulada pelo então Gabinete de Crises da Presidência da República nos levou a entender que, para solução dessas crises, temos que nos valer de grande número de atores, de redes sociais, de estruturas, de níveis de governança etc.
Numa crise de grande proporção, estamos, de fato, diante de uma situação realmente complexa, que desafia a racionalidade administrativa, pois são situações em que o aparato de emergência de um estado ou mesmo de um país não é suficiente frente às dimensões das consequências de um desastre natural.
O resultado é que as manchetes dos jornais vão na direção do despreparo das autoridades para esse tipo de crise.
Tal foi o que ocorreu no estado de Nova York, em dezembro último, devido ao que se chamou de “bomba climática”.
Foi uma grande crise causada por combinação de alguns fatores: dimensão gigantesca da nevasca, dificuldade de convencer os moradores do alto risco presente e o que vínhamos citando acima, que são os recursos insuficientes de um só estado diante da enorme catástrofe e a falta de agilidade do poder público, ampliando a letalidade da nevasca.
Segundo a imprensa local, as autoridades subestimaram o impacto dessa tempestade. Foram 37 horas ininterruptas de neve e é desnecessário descrever os quadros de dor e desolação desse desastre.
Mas ficam algumas lições aprendidas:
- Necessidade de articulação: o número de instituições envolvidas é tão grande que a falta de articulação gera, em casos extremos, paralisação e inexistência de cooperação institucional.
- Inação: algumas autoridades ficam paralisadas diante da catástrofe e, com isso, a máquina pública fica igualmente parada.
- Educação cívica: foi exemplar o caso do tsunami que resultou em acidente nuclear em Fukushima, no Japão. A atitude das pessoas fez toda a diferença, com filas ordeiras para recebimento de ajuda, compras apenas do que fosse necessário, nenhum saque a lojas, todos sabiam exatamente o que fazer (fruto das simulações), os meios de comunicação ajudando a difundir a calma.
- Planos de emergência não se improvisam e devem atender a toda gama de problemas.
- É necessário pensar em outras medidas de médio e longo prazos para prevenir uma futura situação similar.