Cunha Couto

Gestor de Crises

Fake News: desde sempre?

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Em um interessante artigo publicado na Folha de S. Paulo, o advogado Ronaldo Lemos descreve que, na Idade Média, surgiu um documento forjado que mudou o mundo.

Com o título em latim Constitutum Constantini, o documento dava a entender ter sido escrito pelo próprio imperador Constantino no século IV. Porém, tratava-se de uma fake news, escrita séculos depois.

O documento era um falso édito de Constantino I (306–337), que fazia concessões à Igreja de Roma, doando ao Papa Silvestre I terras e prédios dentro e fora da Itália. Com essa suposta doação, o imperador confessava sua fé, alegando que, antes mesmo de sua conversão, havia sido curado da lepra por intercessão do Papa.

Esse documento transferia vastos territórios europeus e os símbolos da autoridade imperial, que poderiam ser usados pelo Papa para demonstrar que todos se subordinavam a ele.

O filólogo italiano Lorenzo Valla, em 1440, provou que o documento era falso, pois o texto havia sido escrito em um latim que não correspondia ao usado no século IV.

Esse falso documento, conhecido em português como “Doação de Constantino”, desempenhou um papel histórico importante, impactando inclusive o Brasil.

Quando Portugal e Espanha disputaram a repartição das terras nas Américas, coube ao Papa Alexandre VI resolver a questão. Foi ele quem emitiu a bula Inter Caetera, que determinava as regiões de exploração de cada uma das nações ibéricas, com base na autoridade supostamente dada a ele por Constantino. Essa bula resultou no Tratado de Tordesilhas.

Vemos que, antigamente, não era incomum a falsificação de documentos para incutir determinadas ideias.

Isso continua acontecendo hoje em dia, com as fake news espalhadas por todos os lados, muitas vezes amplificadas pelas redes sociais, que alteram histórias e fazem com que versões falsas dos fatos pareçam verdadeiras.

As redes sociais assumiram, nesta década, um papel central nas eleições de muitos países, ao facilitarem a disseminação de desinformação. Essas informações falsas, muitas vezes, se escondem sob o manto da liberdade de expressão e ganham uma enorme fluidez.

Os desafios, portanto, estão postos: como combater a desinformação sem ferir a liberdade de expressão? Como acabar com as fake news?

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