Cunha Couto

Gestor de Crises

Drones X Operadores: A nova guerra invisível

Design sem nome (21)

Desde a guerra do Iraque, quando pilotos de drones eram obrigados a observar, em voo posterior ao ataque, os efeitos devastadores de seus disparos, a dimensão psicológica do combate remoto tornou-se objeto de estudo sério. Hoje, na guerra Rússia–Ucrânia, essa fronteira mental atinge um novo patamar: já não é o drone o recurso mais valioso, mas sim o operador que o controla.

Durante dois anos, pilotos ucranianos mantiveram vantagem tática, operando drones aéreos e navais capazes de detectar e atacar posições russas com rapidez. Essa supremacia mudou com o surgimento da unidade russa Rubikon, criada não para destruir drones, mas para localizar e eliminar os operadores ucranianos. Dotada de cerca de 5 mil soldados, ampla autonomia e recursos avançados, a Rubikon penetra até 10 km atrás das linhas de combate, rastreando emissões eletromagnéticas, antenas ocultas e sinais de controle — transformando cada transmissão de rádio em risco de morte.

O campo de batalha tornou-se um território abstrato, onde espectro eletromagnético, interferências, sequestro de sinais e vigilância térmica definem quem vive e quem morre. O desgaste psicológico é profundo: a Ucrânia não dispõe de pessoal suficiente para turnos contínuos, e operadores enfrentam exaustão e tensão permanente. A vantagem ucraniana, que já representou até 80% de sua eficácia combativa, vem sendo corroída pela adaptação acelerada russa — uma capacidade de aprendizado que comprime em meses o que antes exigiria anos de doutrina militar.

Alvos de uma caça tecnológica implacável, militares vivem sob uma pressão psicológica que ultrapassa o limite do suportável. Se drones são o símbolo da guerra do futuro, proteger seus operadores deveria ser prioridade absoluta — não apenas para preservar a capacidade de combate, mas para manter o limite ético e humano em conflitos cada vez mais desumanizados. Assim, a guerra contemporânea revela uma contradição inquietante: quanto mais o combate se distancia fisicamente, mais ele se aproxima emocionalmente dos operadores.

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