Cunha Couto

Gestor de Crises

Desigualdade Social

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Trata-se de um círculo difícil de romper.

Em artigo publicado em 28 de agosto de 2025 no O Estado de S. Paulo, Jorge Okubaro aborda a persistência dos dilemas sociais, econômicos e políticos brasileiros, que se repetem a ponto de muitos aceitarem como normais situações que, na verdade, revelam profundas distorções estruturais.

Okubaro cita o livro A Loteria do Nascimento, que mostra como as condições em que uma pessoa nasce podem influenciar sua vida até mais do que um sistema educacional de baixa qualidade. Embora a educação de qualidade seja decisiva para transformar realidades, a desigualdade social não se explica apenas pela escola, mas também por fatores como estrutura familiar, herança, redes de contato e oportunidades que favorecem determinadas carreiras.

Esse quadro se perpetua porque há uma barreira silenciosa: filhos de famílias pobres enfrentam desvantagens desde o início, enquanto filhos de profissionais mais bem posicionados têm acesso a estímulos naturais de ascensão.

Um exemplo simbólico é dado no campo da Sociologia: o filho de um operário tende a conviver com outros operários, enquanto o filho de um médico ou advogado cresce cercado por pares que reforçam expectativas de sucesso. Mesmo quando conseguem romper essas barreiras, os de origem humilde precisam de esforço adicional para conquistar espaço em ambientes já dominados por elites.

Dados recentes do Fundo Monetário Internacional revelam que o Brasil, além de apresentar uma renda per capita que evolui lentamente, concentra cada vez mais essa renda em poucos, sinalizando uma combinação “inquietante” de estagnação e desigualdade.

A desigualdade brasileira, assim, não é apenas uma estatística, mas um processo que atua como seleção natural imposta pela sociedade. O desafio é romper esse ciclo com políticas públicas eficazes e investimentos consistentes em educação, saúde e oportunidades reais de mobilidade social.

O maior risco é, portanto, quando a desigualdade se torna “normal”, pois a democracia se fragiliza e o futuro do país se apequena.

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