Durante os 13 anos em que trabalhamos no Gabinete de Crises da Presidência da República, por algumas vezes fomos ativados em apoio ao Ministério da Saúde, que assumia a coordenação central da crise da gripe aviária. Havia, entre nós, a versão bem-humorada de que era consequência de alguma galinha que havia espirrado na China…
O vírus H5N1, também conhecido como gripe das aves, é um subtipo de vírus Influenza A que pode causar doença em humanos, com risco de virar pandemia.
Assim ocorreu com a pandemia AH1N1, nascida em março de 2009, no México, nos porcos, porque o vírus das aves precisa transmutar infeccionando um animal mamífero para depois ser uma ameaça aos humanos. Em poucas semanas, houve propagação por toda parte, apesar dos esforços em medidas preventivas e de contenção geográfica.
Foi mais uma crise que resultou em um fenômeno global. Como tal, a sua solução tinha que ter a mesma grandeza, partindo de organismos internacionais, multilaterais e supranacionais, que pudessem vencer o receio e a resistência das populações a adotar certas medidas que se faziam necessárias, como a destruição de todo um aviário contaminado.
Nas últimas semanas, devido à migração das aves contaminadas desde a Ásia, a influenza H5N1 voltou às manchetes de cidades litorâneas na Rússia e no Peru, passando por Espanha e granjas nos Estados Unidos, ocasionando, após certificado do contágio, a morte ou o sacrifício de milhares de aves.
Recentemente, casos de gripe aviária se confirmaram em cidades brasileiras, bem como em aves marinhas encalhadas em praias, fazendo com que o Ministério da Agricultura e Pecuária decretasse, em 22/5, correta medida preventiva à crise: o estado de emergência zoossanitária em todo o país.
Providências anteriores
Desde maio de 2003, a preocupação com este tipo de ameaça biológica ao país fez com que fosse criado, no âmbito da Secretaria-Executiva da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDEN) um Grupo de Trabalho de Biodefesa, permanente.
Por isto, em 2005, quando a Influenza Aviária A(H5N1) se tornou, novamente, uma preocupação para o mundo todo, o acompanhamento do tema já vinha sendo feito e todos os órgãos envolvidos já se reuniam periodicamente. Isto tornou mais fácil a rápida ativação do Grupo Executivo Interministerial para implantação do Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza, sob a coordenação do Ministério da Saúde.
Um dos episódios, nessa época, que ficou na lembrança da equipe, também por ter demonstrado a eficiência do nosso sistema de Vigilância em Saúde, foi quando um ministro viajou em avião comercial. Alguns dias após essa viagem, a Anvisa informou ao Secretário Nacional de Vigilância em Saúde que, no voo em questão, duas fileiras atrás de onde viajara o ministro, havia um passageiro cujo exame deu positivo para a Influenza.
Nesse dia do alerta, esse ministro se encontrara com o Presidente Lula numa cerimônia pela manhã, mas, o que mais nos preocupava, era que o mesmo ministro fazia parte da comitiva presidencial que partiria para Paris em poucos dias. Quem iria dizer ao Ministro que ele estaria colocando em risco a saúde do Presidente se viajasse com o ele para a Cidade Luz?
É nestas horas que muitos se lembram de que existe um Gabinete de Crise na Presidência…