No dia 5 de junho, chegamos a 100 dias de um conflito na Ucrânia. Este “na Ucrânia” é importante destacar, porque é o teatro onde estão ocorrendo os combates, com muitos homens sendo mortos e de onde partiram mais de seis milhões de ucranianos. Um quadro terrível!
Fica difícil se tirarem lições outras que não a da irracionalidade desse episódio, mas esse é um exercício que deve ser feito.
Diferente de outros conflitos que já duram anos, como os da Síria e do Iêmen, este, por estar no quintal da Europa e por opor, na verdade, OTAN/EUA e Rússia, ganhou acompanhamento diário pela mídia internacional.
O que mais ficou evidente foi o retorno do uso dissuasivo de armas nucleares, mesmo sendo táticas em suas dimensões de carga e de alcance, extrapolando para o leste europeu ameaças que só existiam, de forma explícita, entre o Paquistão e a Índia e entre a Coréia do Norte e os EUA.
O atual conflito também serviu para que armas e equipamentos militares fossem apresentados ao mercado de armamentos por demonstrações em território ucraniano. Via OTAN, aí estão armas sofisticadas inglesas, francesas, suecas, norte-americanas, russas etc.
Nesse contexto, mercenários se apresentaram como opção atrativa, por custarem menos do que europeus e americanos e por, de um modo geral, possuírem experiência em combate.
Uma vez mais, vimos a lentidão com que o Conselho de Segurança da ONU se colocou diante de uma violação de soberania de um país democrático.
E a guerra no Leste da Europa já provoca crise alimentar em países africanos: 25 países africanos importam da Ucrânia e Rússia mais de um terço de seu consumo de trigo, e outros 15 mais da metade. Dados equivalentes devem surgir para outras regiões em desenvolvimento do mundo.
Também está colocada em xeque a eficácia de aplicação de sanções, tanto por parte das nações ocidentais à Rússia (algumas em vigor desde 2014), como desta, pela redução de exportação de sua energia, aos países europeus.
Num mundo conectado, o petróleo não ficou de fora dessa guerra e países árabes condicionaram sua produção, com consequências no preço internacional, à obtenção de apoio dos EUAem suas rivalidades regionais.
A guerra de desinformação, de parte a parte, tem sido um capítulo ampliado com os novos recursos midiáticos sociais.
Por outro lado, imagens de satélites, como já havia ocorrido na anexação russa da Criméia em 2014, facilitaram o acompanhamento de um conflito bélico, fornecendo dados importantes, como o movimento de tropas online. E, pior, explicitaram as atrocidades de uma guerra.
Para muitos analistas internacionais, essa guerra é o início da era pós-americana e o fim da era unipolar, por ter sido marcada pela política superando a economia, numa nova ordem global.
Vimos, ainda, a perda de neutralidade da Suécia e da Finlândia, solicitando a entrada para a OTAN.
Por fim, este conflito, como sempre ocorre, serviu para tirar o foco de problemas internos por que passava o governo e, a partir daí, reconstruir a identidade russa.
Temos, pois, que enquanto o Direito Internacional se debruça sobre o cometimento de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade, os altos custos da guerra provocam tensões e destruições nas sociedades envolvidas.
Até quando?