Encerrada a COP 30, surge a pergunta essencial: o que dizer aos amazônidas, que vivem na linha de frente das transformações climáticas? O artigo de Carlos Nobre, A urgência da adaptação climática para o bem-estar das populações amazônicas, reforça uma evidência inescapável: a Amazônia já não enfrenta riscos futuros, mas impactos presentes e cada vez mais severos.
Secas históricas, rios que já não são navegáveis, aquecimento recorde da atmosfera e dos lagos, além de queimadas extensas, estão alterando profundamente a vida de milhões de pessoas. A segurança alimentar — antes garantida pela regularidade das águas e pela floresta abundante — tornou-se frágil e incerta. É nesse contexto que o estudo Estratégias de Adaptação Climática para o Bem-Estar das Populações Amazônicas, liderado pela pesquisadora Tereza Cristina Giannini e outros 25 cientistas, soa como alerta e roteiro. O documento reúne 35 ações urgentes para garantir água, alimentos, renda e saúde em meio ao clima já em mudança.
A base dessas propostas é clara: a natureza precisa funcionar para que a população sobreviva. A floresta é a primeira linha de defesa — regula o clima, protege os rios, fertiliza o solo, alimenta e sustenta culturas tradicionais. Valorizar conhecimentos indígenas e locais, combinados ao saber científico, é parte essencial das soluções baseadas na natureza. Também é urgente mapear impactos na saúde, na cultura e nos territórios, justamente onde os extremos climáticos são mais severos.
No entanto, nenhuma ação será eficaz sem deter o desmatamento e a degradação. Zerar a perda florestal é condição mínima para manter os serviços ambientais que sustentam a região.
A COP 30 deixou claro que adaptação não é promessa futura, mas dever imediato. Os amazônidas não precisam de discursos, e sim de ações contínuas, permanentes e monitoráveis.
Enfim, a floresta tem sido resiliente; agora, cabe a nós provar que somos capazes de protegê-la — e de proteger quem dela depende para viver.
