Há 20 anos, em 30 de setembro de 2005, o jornal dinamarquês Jyllands Posten publicou doze charges representando o profeta Maomé. O episódio provocou uma onda de protestos em países muçulmanos, ataques a embaixadas da Dinamarca e resultou em cerca de 140 mortes relacionadas à violência das manifestações.
Essas publicações tornaram-se um marco do choque entre a concepção ocidental de liberdade de expressão e a noção de blasfêmia presente em diversas tradições islâmicas.
Para muitos analistas, tratou-se de um dos mais graves confrontos culturais do início do século XXI. A frase de Rudyard Kipling em The Ballad of East and West — “O Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente, ambos nunca irão se encontrar” — parece ecoar nesse contexto.
Após o episódio, jornais ocidentais deixaram de publicar charges sobre Maomé, em um movimento de autocensura motivado pelo temor de novos confrontos e mortes. Esse silêncio forçado mostra como o Ocidente, paradoxalmente, acabou “encontrando” o Oriente, mas não pelo diálogo construtivo, e sim pela renúncia preventiva.
A questão central é: até onde a liberdade de expressão pode ou deve avançar quando confrontada com sensibilidades religiosas capazes de gerar violência?
Se a prudência evita tragédias, ela também abre espaço para a imposição do medo. Nesse ponto, a lição é clara: uma convivência saudável entre culturas só será possível quando houver respeito mútuo.