Cunha Couto

Gestor de Crises

Bloqueio da Venezuela

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A escalada entre EUA e Venezuela atingiu um novo patamar após o presidente Donald Trump ordenar o bloqueio total de petroleiros sob sanções norte-americanas que operam nas águas venezuelanas.

Segundo a Casa Branca, o país estaria “completamente cercado” por forças militares dos EUA, em uma operação destinada a impedir a entrada e a saída de quase todos os cargueiros de petróleo – com exceção daqueles ligados à Chevron, única grande empresa americana ainda autorizada a atuar no país.

A medida representa, na prática, um cerco econômico ao principal ativo venezuelano: o petróleo.
Entretanto, o endurecimento foi além do plano econômico. Trump classificou o governo de Nicolás Maduro como uma “organização terrorista internacional”, abrindo caminho jurídico e político para ações militares diretas, nos moldes das operações conduzidas contra grupos como o Estado Islâmico e a Al Qaeda.

O anúncio veio acompanhado do deslocamento de milhares de militares, navios de guerra e ao menos um porta-aviões para o Caribe, sinalizando disposição de sustentar a pressão no campo naval.

Caracas reagiu com veemência, denunciando a iniciativa como uma ameaça belicista e uma tentativa de apropriação de seus recursos naturais. O governo venezuelano afirmou que a soberania nacional está sendo violada, especialmente após a apreensão de embarcações, ataques cibernéticos à PDVSA e a consequente redução das exportações de petróleo.

No mercado internacional, a tensão já produziu efeitos: os preços do barril reagiram em alta diante do risco de interrupções no fornecimento.

Nos Estados Unidos, a medida também gerou controvérsia. Especialistas em direito internacional e segurança alertam que bloqueios navais configuram atos de guerra e exigiriam autorização explícita do Congresso. Parlamentares questionam a legalidade e a eficácia da estratégia, enquanto críticos argumentam que a pressão externa pode, paradoxalmente, fortalecer politicamente Maduro.
Resta saber se aliados como Rússia, China e Cuba optarão por algum tipo de apoio mais direto à Venezuela, se um regime acuado reagirá com escalada cinética e, sobretudo, se os custos militares e políticos de policiar indefinidamente o Caribe são sustentáveis.
Na prática, o bloqueio parece menos uma solução estratégica e mais uma aposta de alto risco: ao confundir sanção com cerco militar, Washington pode transformar uma crise controlável em um conflito de consequências imprevisíveis — e, ao fazê-lo, corroer a própria legitimidade que busca afirmar.

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