Cunha Couto

Gestor de Crises

Antiocidentalismo é crise?

CCBlog250

As reconfigurações no tabuleiro geopolítico têm obrigado a realização de realinhamentos estratégicos.

Com as eclosões da guerra na Ucrânia e do conflito entre Israel e Hamas, foi evidenciado um falso dilema de os países terem que se alinhar a algum dos blocos: de um lado, o “antiocidental” liderado por China e Rússia; de outro, EUA, Europa, Japão, entre outros.

Esse dilema surge do entendimento de que o sentimento antiocidental se refere à oposição ou hostilidade em relação ao povo, à cultura, aos valores ou às políticas do mundo ocidental.

Essa percepção foi alertada por Samuel P. Huntington logo após o fim da Guerra Fria, ao argumentar que o conflito internacional relacionado à ideologia econômica seria substituído pelo conflito baseado nas diferenças culturais e nos regionalismos políticos.

Entretanto, o termo “Ocidente” não se refere mais, obviamente, a uma posição geográfica. Hoje, “Ocidente” caracteriza um conjunto de países que possuem similaridades em termos de desenvolvimento econômico, industrial, tecnológico e humano, compartilhando determinados valores relacionados a regime político e governança. Esses países costumam alinhar-se em agendas internacionais. O Ocidente inclui os EUA, Canadá, Japão, Austrália, Israel e, em geral, países europeus, mas não se limita a esses.

O fato é que tem sido atribuída ao Ocidente boa parte dos males que acontecem no mundo, e posições ideológicas extremadas reavivam conceitos negativos antigos sobre ele.

Num discurso recente na Flórida, o presidente da Argentina, Javier Milei, propôs a criação de uma aliança militar, econômica e diplomática para “salvar o Ocidente” e “combater o socialismo”. Segundo ele, o pacto deveria contar com os EUA no Norte, a Argentina no Sul, a Itália na Europa e Israel como “sentinela” no Oriente Médio, todos liderados pela extrema-direita.

Enfim, ao tomarem partido em relação a um dos lados, os países têm demonstrado que o sentido de “Ocidente”, hoje, é diferente daquele do pós-Guerra Fria, pois, ao contrário de então, o mundo se tornou multipolar e mais independente.

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