Cunha Couto

Gestor de Crises

A retórica do “estado de necessidade”

CCBlog300

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, lançou mão da velha estratégia da dramatização geopolítica para justificar a controversa Operação Leão Nascente. Em busca de respaldo internacional, ele apelou para o conceito de “estado de necessidade”, tentando legitimar o que, na prática, se tratou de um ataque preventivo contra o Irã, algo que colide frontalmente com os princípios do direito internacional.

De forma semelhante, essa narrativa de Netanyahu ecoa o discurso norte-americano após o 11 de Setembro, quando os EUA recorreram a argumentos de autodefesa preventiva para invadir o Iraque — lembrando: um país que jamais apresentou as “armas de destruição em massa” então alegadas pelos EUA. Assim como naquela ocasião, o temor se mistura a interesses políticos e a conveniências eleitorais.

Assim é que, valendo-se dessa analogia forçada, Netanyahu fala em evitar um “holocausto nuclear”, evocando a memória histórica do extermínio nazista contra os judeus.

O programa nuclear iraniano é uma ameaça? Sem dúvida, mas justificar bombardeios letais com base em intenções futuras e sem autorização do Conselho de Segurança da ONU coloca Israel na mesma trilha de unilateralismo que tantos condenaram nos EUA de George W. Bush, em 2003.

Há, ainda, um componente doméstico evidenciado por analistas nesse cálculo de guerra: Netanyahu enfrenta forte desgaste político e possível derrota eleitoral. Uma ofensiva bem-sucedida contra o Irã, ou ao menos midiaticamente eficaz, poderia lhe render capital político e até salvar sua carreira, já que, fora do cargo, ele volta a ser alvo de processos que podem levá-lo à prisão.

O custo dessa operação contra o Irã, porém, é altíssimo, pois, em resposta, o Irã retaliou com mísseis sobre Tel Aviv, onde civis foram mortos e feridos, e a escalada militar vem ameaçando mergulhar toda a região em uma nova espiral de violência.

E, por fim e reforçando, a doutrina do ataque preventivo não encontra respaldo na Carta da ONU. Ao adotá-la, Israel se afasta do direito internacional e se aproxima da lógica de poder puro, onde a força precede a razão — e onde a sobrevivência de um líder político se sobrepõe à paz.

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