Cunha Couto

Gestor de Crises

A mentira e a crise

CCBlog295

Crises não surgem do nada. Por vezes, elas se formam alimentadas por distorções, omissões convenientes e verdades ignoradas.

Já quando a crise se origina de uma mentira usada como estratégia, vemos que ela não apenas antecede a crise, mas a provoca, sustenta e aprofunda, fora da realidade.

Foi o que ocorreu quando Trump recebeu o presidente da África do Sul e lhe mostrou fotos dizendo que estava permitindo um genocídio de brancos no seu país. Era uma mentira, usada talvez para justificar a entrada nos EUA de “afrikaners” (grupo étnico de descendentes dos colonos calvinistas que se radicaram na África do Sul).

“Esses são, todos, agricultores brancos que estão sendo enterrados”, disse Trump, para sustentar a acusação falsa de que há um genocídio contra os brancos na África do Sul e para tentar constranger o presidente sul-africano Ramaphosa durante o encontro entre os dois líderes.

Era mentira. Tanto que a imagem que, segundo Trump, mostraria corpos de fazendeiros brancos mortos na África do Sul, na realidade foi feita pela agência de notícias Reuters durante a gravação de uma reportagem sobre a guerra civil na cidade de Goma, no Congo.

Trump também exibiu uma foto de cruzes em uma estrada sul-africana, afirmando que elas retratavam “locais de sepultamento” de “mais de mil fazendeiros brancos”.

Na realidade, essas cruzes faziam parte de uma instalação artística de protestos contra vítimas de violência no país, exposta há cinco anos.

A crise só não escalou devido à elegância de ser do líder Ramaphosa.

Como lição, para alguns, em tempos de estabilidade, a mentira pode até ser útil, ao suavizar confrontos e ao esconder falhas.

Entretanto, em tempos de crise, a verdade cobra sua presença, especialmente na comunicação entre os atores da crise.

Isso porque crises são momentos de revelação da verdade. Depois que tudo o que foi sustentado por ilusões se desfaz, resta a oportunidade de reconstruir a verdade, com honestidade, na busca do que se quer preservar.

A crise, portanto, é o espelho em que a mentira não consegue se esconder.

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