Cunha Couto

Gestor de Crises

A Guerra Subterrânea

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A Primeira Guerra Mundial é conhecida como o primeiro conflito em terra, mar e ar, mas a guerra também estava acontecendo sob a terra. Isso se deveu aos batalhões de engenheiros britânicos “Escavadores de Túneis”, que cavavam no subsolo de suas trincheiras até as linhas inimigas para contra-atacar. Foi assim que instalaram 19 minas abaixo das linhas alemãs, que explodiram, criando uma cratera de 129 metros de diâmetro e 12 metros de profundidade, matando e ferindo soldados alemães na Bélgica.

Em 2017, o potencial apresentado por túneis em contextos de guerra assimétrica levou o US Army a gastar US$ 572 milhões para adestrar suas unidades em assaltos subterrâneos.

Uso Atual de Túneis em Conflitos

Já nos dias atuais, o uso de extensas e sofisticadas redes de túneis pela Coreia do Norte (líder na criação de infraestruturas subterrâneas); também na Guerra Russo-Ucraniana; e pelo Hamas na faixa de Gaza, gerou um interesse renovado na guerra subterrânea.

Tanto é assim que ganharam difusão anotações, a seguir sintetizadas, atribuídas a Yigal Levin, que circularam em redes sociais, de palestra proferida recentemente por Yehuda Kfir, major das Forças de Defesa de Israel (FDI), especialista em fortificações e engenharia militar.

Em essência, o Exército Israelense não estava preparado para essas mudanças na arte militar, embora soubesse da existência dos túneis na Faixa de Gaza, mas não de sua escala. Aparentemente, os túneis subterrâneos do Hamas e os do Hezbollah repetem, conceitualmente, os desenvolvimentos feitos pela Coreia do Norte.

Importante destacar a pressão psicológica exercida pela guerra subterrânea: “A ideia de que pode haver um túnel embaixo de você, e que os inimigos podem surgir a qualquer momento, não permite que você durma!”. É devido a isso o emprego de muitos militares por todo o território, pois há várias frentes subterrâneas. Há, ainda, um aumento no fogo amigo, pois os soldados esperam que o inimigo apareça em qualquer lugar.

Desafios e Soluções na Guerra Subterrânea

Os túneis subterrâneos do Hamas provaram ser estruturas resilientes, uma verdadeira cidade subterrânea, com vários níveis de profundidade, túneis para ataques e fugas para os próximos níveis, fazendo com que bombardeios ou inundações não sejam eficazes contra túneis profundos.

Em outra guerra, na “operação especial” russa na Ucrânia, suas Forças Armadas se defenderam da ofensiva ucraniana devido a terem cavado um sistema com passagens entre as fortificações, neutralizando a eficácia das armas ocidentais. Esses túneis permitiram passar de uma linha de defesa para outra e até realizar ações de contra-ataques.

Então, como realizar o combate às forças subterrâneas? A tática das FDI de esperar que os terroristas do Hamas saiam, rastreá-los até onde se escondem e só então enviar forças para lá tem se mostrado ineficaz.

Hoje, as Forças Militares precisam desenvolver capacidades de engenharia subterrânea, bem como usar robôs e torpedos-toupeira subterrâneos e até mesmo o uso de linhas de esgoto urbano para operações de combate.

Sem dúvida, a guerra subterrânea vem marcando presença nos assuntos militares, porque um exército moderno que utiliza túneis profundos ganha vantagens, tanto defensivas quanto ofensivas.

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