Bem sabemos que a falta de diálogo ocorre em nossas famílias, no trabalho, em situações de nosso dia a dia, e que são origens de crises. O que estamos chamando a atenção é a falta de diálogo entre instituições que não podem prescindir dele.
Um exemplo recente, para melhor compreensão, recebi do experiente assessor parlamentar e amigo Arthur Wittenberg: a coalizão de 21 Frentes Parlamentares em oposição à Medida Provisória 1.227/2024, apelidada de “MP do fim do mundo”.
As frentes parlamentares são arranjos de coordenação cada vez mais relevantes no processo decisório brasileiro, com frequentes atuações, que podem lhes conferir legitimidade e poder de influência. No caso dessa MP, trata-se de um arranjo complexo de governança, mas que mostra a notável capacidade de articulação dos interesses no Legislativo ao reunir parlamentares de diferentes partidos e ideologias, emprestando um caráter transpartidário e técnico ao seu argumento.
Essa mobilização envolveu, além dos parlamentares, a participação de representantes empresariais em um almoço para discutir os impactos da MP. Essa integração entre Legislativo e atores privados reflete justamente o diálogo que pode ter faltado na elaboração
original da medida, abrindo espaço para que uma narrativa desfavorável ao Executivo ganhasse projeção, conseguindo visibilidade ao assunto via pauta relevante na mídia e angariando simpatia e apoio na opinião pública.
Isso demonstra como a capacidade de diálogo e de articulação entre parlamentares e setores interessados influencia, efetivamente, o processo decisório numa crise.