Cunha Couto

Gestor de Crises

A crise da gestão da crise da Covid-19

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Passados dois anos do início do combate ao novo coronavírus no mundo, permanecem incertezas, dificultando a tomada de decisão de governantes. Alguns deles parecem ter adotado decisões mais assertivas; outros, entretanto, fizeram da gestão da crise uma crise em si mesma.

E isso ocorreu porque a doença Covid-19 gerou uma crise global e multidimensional, em que o destino das populações esteve e ainda está em jogo.

Mais uma vez, vivenciamos que na crise, verdadeiramente, um governante é testado. Tal se verifica especialmente em pandemias, pois estas potencializam problemas que já vinham ocorrendo e há ineditismos em sintomas, reações, velocidade de contágio e efeitos colaterais. 

Essas consequências lembram os cidadãos que é responsabilidade de todo governo entregar à população bons serviços, seja na saúde, na educação, na segurança e em outras áreas.

Isto porque vírus é um fenômeno natural. Depois da gripe Espanhola (1918-19),tivemos, no passado recente,seis epidemias: as gripes Asiática (1957-58) e de Hong Kong (1968-69), a Aids (1982, até hoje), a SARS (2002-04), a MERS (2012) e o Ebola (2014). 

Algumas se transformaram em pandemias, mas todas obrigaram os governantes a fazer frente a grandes problemas sanitários, políticos e socioeconômicos em seus países.

E as pandemias estão sempre no horizonte. Recordemos que estudos feitos quando da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2003, também causada por um coronavírus, já apontavam para a ocorrência de novas pandemias.

Ainda assim, o desconhecimento sobre a evolução da doença Covid-19 retardou e desafiou a preparação dos países para enfrentar a nova pandemia.

Fato é que, com o estabelecimento dessa pandemia, nunca foram tão valorizados os epidemiologistas, os virologistas e os infectologistas, porque de seus conhecimentos dependeu chegarmos à vacina, que foi a solução.

Crise gerando crises

O que, logo no início, nos surpreendeu, foi a concentração da maior parte da produção de equipamentos hospitalares na China, que foi o primeiro país a ser afetado pela doença e que, como medida de proteção, decretou lock-down, aliás como repetido no momento, em Xangai e em Pequim.

Foi a partir de então que uma das lições aprendidas com a gestão dessa crise se fez presente: a crise de saúde não estava sozinha; dela decorreu uma crise econômica; desta uma social, e ainda uma política. 

Com isso, qualquer que fosse a decisão de adotar um ou outro processo de enfrentamento da doença, ela parecia ser ruim, pois não se mostrava adequada.

Tratava-se de escolha entre a eficiência do sistema de saúde, por dar prioridade ao tratamento dos infectados; ou focar na recuperação econômica, ao que se chamou de “novo normal”, após a passagem do período crítico.

Também nos ficou clara, na crise da Covid, a falta de colaboração entre países, e, internamente, entre os estados e entre os municípios. Até que se efetivasse uma coordenação central, a pandemia fez o Brasil parecer uma espécie de confederação.

No momento estamos iniciando o pós-crise, ou seja, a “cicatrização” da crise, flexibilizando as medidas restritivas e voltando à vida normal.

Análises feitas pelos países que já passaram pelas graves pandemias, em que as perdas em vidas, em empregos e em rendas são enormes, nos dizem que o mundo igual não será, mas há exagero em falar que tudo mudará ou que haverá profundas alterações nas estruturas hoje existentes e na evidência das desigualdades.

Enfim, como foi citado ao início, comprovou-se que o verdadeiro valor de um governante se mostra em situações de crise. Vimos que alguns conseguiram conter a crise em suas dimensões da saúde e de seus reflexos na economia. Outros permitiram que, por falhas na gestão da crise, se somassem a essas as crises sociais e as políticas.

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