Depois de exaltada por três anos, a política sanitária chinesa contra o SARS-CoV-2 passou a ser contestada internamente, quando sua população perdeu a paciência com os longos lockdowns e iniciou uma onda de protestos, até aqui inimaginável.
Várias e importantes cidades da China foram palco de manifestações contra as restrições impostas pela política de Covid zero e surgiram também raros outros protestos – contra as limitações à democracia e às liberdades individuais.
O novo surto da Covid-1, pela cepa Ômicron (fala-se em milhões de infectados por dia e se projeta mais de um milhão de mortes), ocorreu quando Xi Jinping já se imaginava na fase pós-crise, iniciando a preparação para a saída da crise e a volta à vida normal na China.
No entanto, com esse novo e grave surto, o quadro é pior, aumentando os riscos para o mundo, não só os riscos sanitários globais, mas também os econômicos, logísticos, sociais e outros.
Como a China está perdendo a luta contra a Covid?
Há várias análises em curso e que nos servirão, no futuro, como lições aprendidas:
- autocratas chineses decidiram pelos lockdowns (contenção radical que dura até hoje);
- essas grandes restrições faziam sentido, inicialmente, para reduzir o ritmo das contaminações e não saturar os serviços de saúde, mas só deveriam permanecer até o desenvolvimento das vacinas;
- apesar das evidências de necessidade de transformações, via vacinações, líderes insistiram nessa política de “Covid zero”, que se mostrou insustentável no médio e no longo prazos;
- diante da crise, não foi adotada uma mudança para um plano B;
- há recusa em usar vacinas com tecnologia mRNA, mais eficaz contra a Ômicron;
- com os intermináveis lockdowns, a economia chinesa caiu a índices muito preocupantes.
Com toda essa pressão, o país teve que iniciar uma flexibilização às restrições drásticas, adotando agora lockdowns intermitentes nas áreas com casos de Covid; o fim da internação automática nos centros de quarentena dos que foram testados positivos; a aplicação de três a quatro doses de vacinas nos mais idosos e o relaxamento das regras para entrada de turistas.
Trata-se de uma mudança nas políticas chinesas, após o governo reconhecer que está premido pelo efeito da crise na sua governabilidade, em que estão em xeque a capacidade de o Estado gerir os negócios públicos, arbitrar os conflitos e atender às demandas da sociedade.
Mais uma vez, é nas crises que os governos são verdadeiramente testados.