A Organização das Nações Unidas completa 80 anos em meio a um dos períodos mais tensos de sua história. Criada ao final da Segunda Guerra Mundial, com 55 membros originais, hoje reúne 194 países e simboliza, ainda, a aspiração pela paz e pela prosperidade.
O aniversário, que poderia ser celebrado como marco de legitimidade, está obscurecido por uma crise de credibilidade e eficácia. Na abertura da Assembleia Geral de 2025, em Nova York, o secretário-geral António Guterres alertou que o mundo corre o risco de mergulhar no caos. Suas palavras refletiram o corte de recursos promovido pelos Estados Unidos sob Trump, gesto que fragilizou a ONU financeira e politicamente.
Guterres anunciou planos de reforma, com redução da estrutura e descentralização de atividades, numa tentativa de manter viva a instituição. Recordou que, em 1945, líderes escolheram a cooperação em vez do caos, a lei em vez da ilegalidade e a paz em vez da guerra.
Hoje, o desafio é ainda maior, pois os problemas são mais complexos e interdependentes: mudanças climáticas, desigualdade social e a busca pela paz. O aquecimento global já afeta o planeta com eventos extremos, sobretudo em países pobres. A desigualdade amplia a fome e mina a estabilidade social. A paz permanece ideal distante, diante da escalada de conflitos e da fragilidade dos mecanismos de mediação.
O diálogo e a negociação continuam sendo alternativas mais baratas e humanas que a guerra. Mas, para que essa lógica prevaleça, é preciso que os líderes das nações assumam responsabilidades concretas. A ONU não pode ser apenas palco de discursos: deve tornar-se ferramenta fortalecida pela vontade política.
O aniversário da ONU não deveria ser apenas uma data protocolar, mas um chamado à ação. Se os líderes não compreenderem que a sobrevivência coletiva depende da cooperação multilateral, a instituição corre risco de tornar-se símbolo vazio. Pensar na paz é hoje necessidade vital da humanidade.