Cunha Couto

Gestor de Crises

Bajulação alimenta crises

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Um traço recorrente em líderes autoritários é a relação simbiótica com seus bajuladores. No caso de Donald Trump, essa dinâmica se manifesta de forma explícita: para alguns, ele é elevado à condição de “Messias dos Estados Unidos e do mundo”. Steve Witkoff, enviado especial para o Oriente Médio, chegou a insinuar que o Prêmio Nobel da Paz seria inevitável para o ex-presidente, enquanto o secretário do Tesouro, Scott Bessent, proclamou que ele “salvou o país”.

Esse ambiente de adulação fortalece a confiança de Trump em decisões abusivas e controversas. Posteriormente, seus assessores se encarregam de resgatar dispositivos legais, muitas vezes ultrapassados, para dar legitimidade a iniciativas que ampliam o poder presidencial. O chamado “tarifaço” é exemplo de medida ancorada em legislações do século passado, reinterpretadas como sustentação jurídica.

O efeito colateral é um clima de paralisia política. Com receio da vingança ou do “óbito político” imposto pelo ex-presidente, muitos dirigentes preferem o silêncio e a inação, permitindo o avanço de uma agenda que fragiliza instituições e ameaça a ordem democrática. Há sinais tímidos de reação vindos de instâncias inferiores do Judiciário, mas ainda é incerto se terão força suficiente para frear o ímpeto autoritário.

Trump já demonstrou sua estratégia de ocupação de espaços-chave: consolidou influência no Departamento de Estado, no FBI e no Pentágono; iniciou movimentos para controlar o Federal Reserve; reorganizou estatísticas oficiais que lhe desagradavam; e tenta manipular distritos eleitorais para enfraquecer a oposição democrata. O próximo passo seria ampliar sua influência sobre a Suprema Corte.

A bajulação, nesse contexto, não é apenas um detalhe psicológico ou de estilo político: torna-se combustível para crises institucionais e democráticas. Quando o culto à personalidade substitui a crítica e o debate, abre-se espaço para a corrosão silenciosa das liberdades. É fundamental que lideranças políticas e a sociedade civil compreendam que conter esse processo não é apenas uma questão de divergência partidária, mas de defesa do sistema democrático como um todo.

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