Cunha Couto

Gestor de Crises

Ética no Gerenciamento de Crises

CCBlog319

Sobre ética, há uma definição muito interessante do escritor português Eça de Queirós: “É a decisão entre o que quero, o que devo e o que posso, pois, às vezes, eu quero, mas não devo; eu devo, mas não posso; e eu posso, mas não quero.” Ela se encaixa, especialmente, em ocasiões de crise.

Em tempos de crise, quando decisões precisam ser tomadas sob pressão, a ética torna-se ainda mais essencial.

Crises, por definição, desafiam a normalidade e colocam líderes e instituições diante de dilemas complexos, nos quais interesses conflitantes, incertezas e urgências coexistem. Nessas situações, é comum que a busca por soluções rápidas leve a atalhos perigosos que ignoram princípios éticos fundamentais — como transparência, equidade, responsabilidade e respeito à dignidade humana.

Portanto, o gerenciamento ético de crises exige não apenas competência técnica, mas também uma bússola moral bem orientada. Isso implica tomar decisões que considerem o bem coletivo, mesmo quando há pressões políticas, econômicas ou midiáticas em sentido contrário. É o caso, por exemplo, de líderes que, durante emergências sanitárias ou desastres naturais, optam por manter a população bem informada, mesmo que isso traga riscos à sua imagem ou popularidade. A ética, nesse contexto, protege a confiança pública, ativo crucial para a eficácia das ações em tempos críticos.

Outro ponto central é o tratamento dado aos mais vulneráveis. A tentação de preservar recursos ou reputações à custa dos direitos de minorias ou da população mais afetada deve ser contida por uma ética baseada na justiça. Também é preciso garantir que os processos decisórios sejam auditáveis e que as ações adotadas estejam alinhadas a valores universais e normativos institucionais. A integridade da gestão de crises depende dessa coerência.

Em um tempo em que a desinformação, o oportunismo e o autoritarismo ganham terreno em meio ao caos, o compromisso ético não é um luxo: é uma necessidade.

Portanto, lideranças verdadeiramente eficazes não são aquelas que apenas “resolvem” crises, mas aquelas que o fazem sem abdicar de princípios. Porque, no fim, tão importante quanto sair da crise é sair dela com a consciência limpa e a confiança pública preservada.

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