A recente decisão de Israel de criar mais 22 assentamentos na Cisjordânia revela, mais uma vez, a estratégia deliberada de inviabilizar a criação de um Estado palestino.
Trata-se não apenas de uma ação ilegal sob o direito internacional, mas de um gesto político que desafia abertamente os princípios de justiça, soberania e coexistência.
A Cisjordânia está sob ocupação militar israelense desde 1967. Hoje, já abriga algo como 160 colônias israelenses, com cerca de 700 mil judeus vivendo em áreas originalmente destinadas ao futuro Estado palestino. Essa expansão contínua, longe de ser resultado de “disputas territoriais”, é uma política de Estado, institucionalizada e sistemática.
A Corte Internacional de Justiça foi clara ao afirmar, no ano passado, que tais assentamentos são ilegais e devem ser desmantelados. No entanto, o governo israelense, em vez de recuar, avança. O próprio ministro da Defesa, Israel Katz, admitiu que a expansão visa impedir a criação de um Estado palestino — o que, segundo ele, representaria uma ameaça à segurança de Israel. Mas como a paz pode florescer quando se nega ao outro até mesmo o direito de existir politicamente?
Organizações israelenses como a Paz Agora denunciam com coragem essa política de ocupação e acusam o governo de praticar limpeza étnica e promover a supremacia judaica sobre os palestinos. Essas vozes internas revelam que não se trata de um consenso dentro da sociedade israelense, mas sim de uma escolha ideológica por parte da atual liderança política.
Ainda mais preocupante é a intenção declarada de criar um “Estado judaico israelense” dentro da Cisjordânia ocupada. Isso não é apenas uma afronta aos Acordos de Oslo, que previam negociações de boa-fé e congelamento da expansão colonial, mas uma provocação ao restante da comunidade internacional.
Enfim, a cada assentamento construído, um tijolo é retirado da frágil ponte que ainda poderia levar à paz. A criação de um Estado palestino viável e soberano está sendo, dia após dia, inviabilizada de forma intencional. E, enquanto o mundo observa, em silêncio ou com tímidas condenações, cresce o abismo entre dois povos condenados, por líderes extremistas, a viver em conflito.
Mais do que nunca, é preciso reafirmar que a paz não se constrói com muros nem com ocupações. Constrói-se com respeito, justiça e o reconhecimento mútuo do direito à existência.