Cunha Couto

Gestor de Crises

Escrúpulo em gerenciamento de crises: ética sob pressão

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“Escrúpulo” é uma das palavras mais fascinantes do dicionário. Sua definição principal é: “Uma dúvida ou hesitação que atormenta a consciência sobre se algo é certo ou errado.”

Por 13 anos à frente do Gabinete de Crises da Presidência da República, escrúpulo era algo de que não podíamos abrir mão.

Em contextos de crise, as decisões precisam ser rápidas, muitas vezes com base em informações incompletas ou contraditórias. É nesse cenário de incerteza e pressão que o escrúpulo — entendido como a preocupação ética e moral que orienta a conduta — pode parecer um obstáculo à ação imediata. Mas, ao contrário do que pode parecer em um primeiro olhar, o escrúpulo não é uma fraqueza no gerenciamento de crises; é, antes, um filtro necessário para garantir legitimidade, coerência e responsabilidade.

Em tempos críticos, a tentação de adotar atalhos é grande: ocultar dados, manipular narrativas, adiar decisões difíceis, culpar terceiros ou sacrificar princípios em nome da “eficácia”. No entanto, a história demonstra que decisões tomadas sem escrúpulo podem até gerar alívio imediato, mas frequentemente cobram um preço alto a médio e longo prazo — seja na forma de perda de confiança pública, dano à reputação institucional ou responsabilização jurídica.

Portanto, gerenciar uma crise com escrúpulo significa manter a integridade mesmo sob fogo cruzado. Significa respeitar direitos, reconhecer erros, comunicar com transparência e agir dentro dos marcos legais e éticos. Essa postura não elimina os riscos, mas reduz os danos colaterais, preserva a legitimidade do líder e protege a instituição diante do olhar da sociedade.

Em um tempo em que a ética muitas vezes é relativizada em nome da sobrevivência política ou da manutenção do poder, defender o escrúpulo como valor central no gerenciamento de crises é uma posição corajosa e necessária. Crises expõem fraquezas, mas também revelam caráter. E é nos momentos mais difíceis que se mede a verdadeira estatura de uma liderança. O escrúpulo pode retardar a decisão, mas impede que ela desonre a causa.

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