Cunha Couto

Gestor de Crises

AMIA: memória e alerta

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Em 18 de julho de 1994, uma explosão destruiu a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, matando 85 pessoas e ferindo centenas. Foi o maior atentado terrorista da história da Argentina e o mais grave já ocorrido contra judeus fora de Israel desde o Holocausto.

Passados 30 anos, as feridas continuam abertas: não há condenações, os responsáveis seguem impunes, e o Estado argentino ainda lida com os que entendem que a verdade foi soterrada por conivência, omissão e interesses políticos.

As investigações, naquela época, apontaram para a participação do grupo Hezbollah, com apoio logístico e financiamento do Irã. O promotor Alberto Nisman, que denunciou o encobrimento das investigações por parte do governo argentino, foi misteriosamente assassinado em 2015, no que muitos consideram mais um capítulo do silêncio cúmplice em torno do caso.

Com o tempo, a AMIA, mais do que um atentado contra judeus, tornou-se símbolo de como a verdade pode ser sequestrada.

Hoje, três décadas depois, o mundo assiste a uma escalada sem precedentes entre Israel e o Irã. O conflito, que antes se travava em campos indiretos — como na Síria e no Líbano —, agora ganha contornos de confronto aberto, com ataques mútuos e ameaças nucleares.

O Irã, mesmo sob sanções e isolado, segue impulsionando forças paramilitares, como o próprio Hezbollah e os Houthis, enquanto Israel responde com força militar e apoio dos EUA. Nesse conflito, estão presentes avanços tecnológicos que redefinem a guerra contemporânea, mas também as ameaças a alvos judeus, fora de Israel, em diversos países.

Relembrar a AMIA é, portanto, mais do que um exercício de memória: é um alerta. A impunidade do passado fortalece a audácia do presente. Quando o terrorismo é tolerado por conveniência e a justiça cede ao cálculo político, as tragédias se repetem em novos palcos e com outras vítimas.

Precisamos decidir se seguiremos tratando o Irã como parceiro negociável ou se o vemos como um regime que patrocina o terror. A história já nos mostrou o preço da hesitação.

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