Cunha Couto

Gestor de Crises

80 anos da Carta da ONU

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Há oito décadas, em 26 de junho de 1945, representantes de 50 países reuniram-se em São Francisco, nos Estados Unidos, para assinar a Carta das Nações Unidas, documento fundador da ONU e marco essencial na reconstrução das relações internacionais após o trauma de duas guerras mundiais. A assinatura do tratado foi mais do que um gesto diplomático — representou a tentativa da humanidade de não repetir os horrores vividos entre 1914 e 1945. Em suas primeiras linhas, a Carta deixava clara sua ambição: “salvar as gerações futuras do flagelo da guerra”.

A criação da ONU simbolizou o nascimento de um novo paradigma: a diplomacia substituindo a força bruta como método legítimo para resolver disputas entre nações. A ideia de um sistema multilateral, pautado em regras comuns e cooperação entre Estados soberanos, trouxe esperança de estabilidade e desenvolvimento sustentado. Desde então, a Carta guiou esforços na prevenção de conflitos, no apoio a missões de paz, na promoção dos direitos humanos e no enfrentamento de emergências globais.

O Brasil, como membro fundador, sempre defendeu a centralidade da ONU. Hoje, 80 anos depois, em meio a um cenário internacional marcado por crises simultâneas — como a guerra na Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio, tensões geopolíticas crescentes entre grandes potências e ameaças ao meio ambiente —, o multilateralismo mostra sinais de esgotamento. Em discurso recente, o embaixador brasileiro Sérgio Danese sublinhou a urgência de reformar e fortalecer a ONU, para que ela possa responder com eficácia aos desafios contemporâneos.

Essa necessidade ficou ainda mais evidente na fala do secretário-geral António Guterres, que alertou para os ataques crescentes aos princípios da Carta: “Assistimos hoje a ataques contra os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas como nunca antes”. A constatação ecoa a realidade de um mundo em que normas internacionais são desrespeitadas de forma recorrente, inclusive por membros permanentes do Conselho de Segurança, minando a credibilidade do sistema.

Entretanto, passados 80 anos, a ONU permanece essencial — mas não intocável. Ou se reinventa e recupera sua autoridade moral e política, ou a ONU corre o risco de se tornar irrelevante diante da desordem global. Reformar o sistema não é uma ameaça ao multilateralismo — é salvá-lo.

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