Cunha Couto

Gestor de Crises

Multidões em manifestações: risco! 

CCBlog277

Com frequência, pessoas morrem pisoteadas por multidões.
Há sempre, portanto, o risco de, por vezes sem causa aparente, ocorrer o “estouro da manada”, um pânico coletivo incontrolável.

Quando atuávamos no Gabinete de Crises da Presidência da República, por diversas vezes estivemos à frente do gerenciamento de manifestações na Praça dos Três Poderes, a fim de garantir que permanecessem pacíficas e ordeiras. Eram realizadas reuniões prévias de prevenção de crises, que envolviam diversos órgãos, além da valiosa experiência da Polícia Militar do Distrito Federal no trato com manifestações, sempre com foco na mitigação dos riscos envolvidos.

Utilizávamos um indicador curioso: a presença de ambulantes que chegavam à Praça dos Três Poderes, no DF, antes do horário previsto para a manifestação. Se fossem muitos, era certo que o número de manifestantes seria expressivo. Como eles sabiam disso, nunca conseguimos descobrir.

Sobre o tema das aglomerações, o biólogo Fernando Reinach publicou o artigo “Como multidões se movimentam”, no qual relata um estudo de cientistas sobre pessoas que se aglomeravam em uma praça durante uma festa religiosa. Entendo que esse estudo se aplica a qualquer tipo de aglomeração.

Eis um breve relato desse estudo:
Quando a densidade é baixa (até duas pessoas por metro quadrado), as pessoas conseguem se locomover livremente, mantendo o que os pesquisadores chamaram de “espaço privado” ao redor de cada indivíduo.
Quando essa densidade ultrapassa seis pessoas por metro quadrado, começa a ocorrer a compressão, com a consequente perda do espaço privado, e as pessoas passam a se apertar umas contra as outras.

Nesse ponto, ocorre um fenômeno interessante: uma pessoa só consegue se mover se as outras ao seu redor também se moverem — e isso de forma coletiva, em grupos de aproximadamente 100 pessoas, que formam círculos em movimento coordenado, girando em relação uns aos outros. Aparentemente, é esse movimento que leva às mortes por compressão e pisoteamento.

Os cientistas ainda não sabem quais são as causas exatas desse comportamento, mas trata-se de uma boa pista para tornar as aglomerações mais seguras.

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