Recebi um artigo que trata do projeto Force Design 2030, voltado à reformulação do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC, na sigla em inglês).
É importante lembrar que, após a Guerra da Coreia, o USMC passou a ser oficialmente reconhecido como a “4ª Força”, ao lado do Exército (US Army), da Marinha (US Navy) e da Força Aérea (US Air Force).
Segue um resumo do artigo, que aborda como uma “guerra interna” tem afligido a elite das Forças Armadas dos EUA, em tradução de Augusto Calil:
Um projeto para adequar o USMC à nova estratégia de segurança norte-americana encontra mares agitados
De acordo com os slogans de seus anúncios de recrutamento, os Marines são: “Os poucos. Os orgulhosos. Os primeiros a combater.” Porém, atualmente, para muitos fuzileiros navais do alto escalão, a luta é interna.
Essa disputa diz respeito ao futuro do USMC e à sua identidade, antes enraizada em grandes guerras como Iwo Jima (1945), a Ofensiva do Tet (1968) e Fallujah (2004). Agora, o Corpo enfrenta as mudanças impostas pela nova estratégia.
Tudo começou em março de 2020, quando o USMC anunciou o Force Design 2030, um plano de dez anos para reconfigurar a força, reduzindo seu contingente (atualmente composto por 174.500 fuzileiros navais) para adequá-lo a uma estratégia de defesa nacional voltada não só à Rússia, mas principalmente à China — um foco que, segundo críticos, é excessivo.
Para alcançar esse objetivo, o plano prevê:
- A eliminação de todos os batalhões de tanques e companhias de pontes (transferidos para o Exército – US Army);
- A redução do número de batalhões de infantaria de 24 para 21;
- A diminuição do número de batalhões de artilharia de 21 para cinco;
- A desativação de vários esquadrões de aviação (helicópteros e aviões).
Com essa nova configuração, o USMC passa a auxiliar a Marinha no controle dos oceanos e na negação de acesso marítimo às forças navais de um claro adversário: a China. Contudo, esse novo direcionamento abandona as operações terrestres sustentadas, que eram a marca registrada da força.
Os críticos apontam que a redução também afeta a frota de navios de guerra anfíbios, o que impede o Corpo de atuar como uma força de resposta rápida a crises globais. Isso compromete sua capacidade de atender às demandas dos aliados dos EUA, especialmente em um contexto de guerras regionais, como as que ocorrem atualmente na Ucrânia e em Israel.
O USMC, que orgulhosamente se descreve como “mais pronto quando a nação está menos pronta”, já teve sua natureza e função questionadas no passado. O presidente Harry S. Truman, por exemplo, chamou o USMC, em agosto de 1950, de “força policial da Marinha”. Porém, um mês depois, em Inchon, ele reconheceria sua utilidade.
O fato é que as mudanças impostas pelo Force Design 2030 irão moldar o emprego do USMC no futuro. A doutrina foi revisada, o contingente foi reduzido, e os recursos foram cortados — levando à consequente perda de poder. E, como se sabe, ninguém gosta de ver seu poder diminuído.