A cada dia, nesse nosso mundo de comunicações instantâneas de massa, “comunicação” e “gerenciamento de crise” tornam-se quase sinônimos.
Trata-se de uma tarefa dupla e cada vez mais complexa, pois os desafios são maiores, desde a diversidade de públicos até a desinformação, onde basta uma palavra, por vezes mal colocada ou mal compreendida, para que se inicie uma crise.
Foi o que ocorreu em uma manifestação do Papa, que, como sempre, repercutiu muito, mesmo considerando que sua infalibilidade só se refere a questões sobre a fé. Ou seja, como humano, ele pode incorrer em falhas.
O Papa Francisco, de 87 anos, durante uma reunião no Concílio Episcopal Italiano, a portas fechadas, utilizou um termo depreciativo – “frociaggine” (algo como “viadagem”) – para se referir a homossexuais aceitos como seminaristas, e isso foi o bastante para uma forte reação de vários meios de comunicação que acompanham o Vaticano.
Os comentários indicaram desde gafe a discriminação, passando por contradição.
O juiz Walter Maierovitch, em sua coluna no UOL, analisou as três acusações e concluiu ser aceitável ter sido uma gafe praticada por Bergoglio.
Também vejo dessa forma. O Papa foi infeliz ao usar essa palavra, mas, em seus 11 anos de Pontificado, sempre primou por posturas respeitosas e defendeu uma Igreja aberta a todos, sem distinção de orientação sexual dos fiéis.
São do Papa Francisco, jesuíta, frases inovadoras no olhar do catolicismo sobre a homossexualidade: “Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou forçado a ser infeliz por isso”; “quem sou eu para julgar?”; “na Igreja há espaço para todos”.
E, concretamente, autorizou abençoar a união entre homossexuais.
Por essas e outras posturas humanitárias, Francisco é considerado um Papa da tolerância e do acolhimento, merecendo, portanto, votos de confiança e de compreensão pela gafe cometida.
Fica, entretanto, a lição: há palavras que nunca devem ser ditas.