Cunha Couto

Gestor de Crises

Quem está ganhando a guerra? PARTE 1

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PARTE 1: Rússia ou Ucrânia?

Com três conflitos armados em curso no mundo, essa é uma pergunta que se vai tornando frequente.

A mídia, de uma maneira geral, vem divulgando, sobre esse conflito, vitórias em nível operacional e, aparentemente, impasses em nível tático. Entretanto, o que nos leva a entender ser uma vitória é, segundo Clausewitz, a conquista do objetivo estratégico (OE) do decisor, que sempre será político.

Em outros termos, mesmo com perdas em níveis operacionais e táticos, a guerra será ganha, ao final, pelo ator que alcançar seus objetivos político-estratégicos, valendo-se, para isso, não só de meios militares, mas também políticos, econômicos, psicológicos e de comunicação.

No caso da “Operação Especial Russa”, o objetivo tático-operacional de conquistar a região separatista de Donbass, um objetivo concreto, foi alcançado rapidamente pelas forças militares; já o OE de derrubar o presidente ucraniano Zelenski teve que ser alterado, uma vez entendido que não iria acontecer depois da ajuda e do posicionamento de países ocidentais e da Otan à Ucrânia.

Outro OE russo de impedir a expansão do número de países membros da OTAN também não foi alcançado, nem mesmo com a ameaça de se valer de armas táticas nucleares. Tudo leva a crer que o fator nuclear russo é mais para dissuasão e se prestaria a deter invasões e não a invadir, pois os invasores teriam que passar pela área contaminada.

Com isso, estes primeiros quatro meses de 2024 revelaram-se dos mais difíceis nesses dois anos de guerra porque há narrativas de vitória pelos dois lados, e dúvidas sobre o agir de um terceiro ator: os EUA. Quais poderiam ser os planos dos EUA para se contrapor à utilização de armas nucleares táticas em território ucraniano? Iriam retaliar, enviando tropas para a Ucrânia, algo que a Otan não fez, ou se utilizar de armas nucleares táticas?

Por outro lado, a estratégia ucraniana da contraofensiva, que acabou não acontecendo, e na qual foram apostados esperanças e recursos, teve seu início em junho/23, sem ameaçar retomar territórios ocupados pelos russos.

Para o professor Janis Berzins, as Forças ucranianas dão sinais de esgotamento após seu desgaste nessa contraofensiva. Não há recursos que resolvam, pois os russos podem ir dobrando seus meios, na medida da necessidade. A Rússia, portanto, é quem modela o campo de batalha e as análises em geral cometem um grande erro: priorizam o nível tático, desconsiderando que este está sendo configurado por uma efetiva estratégia política e militar russa, e com assimetria de poder insuperável.

O bravo esforço dos militares ucranianos não supera as diferenças. Não parece ser uma questão de fornecer mais armamentos, é assimetria de poder, o que é insuperável. Vamos ver como o governo ucraniano vai se sair agora que recebeu os 61 bilhões dos EUA.

Para alcançar seu OE, a Rússia não tem pressa, pois a continuidade da guerra desgasta bem mais a Ucrânia. Assim, ela pretende ir se consolidando em toda a margem oriental do Dnipro, enquanto tenta mudanças políticas na Ucrânia para estabelecer um governo que lhe seja favorável.

Por fim, vejo como deploráveis as narrativas dos que estão, de fora do Teatro de Operações, fornecendo mais armas e, assim, ampliando mortandade. Quanto mais pessoas morrerem, piores serão as condições para a negociação de paz.

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