Há 50 anos, foi derrubada a mais longa ditadura da Europa, redemocratizando Portugal e possibilitando o caminho para a independência das colônias portuguesas na África.
Nesse período de ditadura, os portugueses foram submetidos à estagnação econômica, pobreza, censura e retirada das liberdades individuais.
Meu avô materno, militar português, foi exilado para o arquipélago dos Açores por suas posições contra Salazar. Nessas ilhas, constituiu família. Em consequência, sou filho de imigrantes: meus pais, então recém-casados, saíram da Ilha Terceira para virem viver no Brasil, onde nasci.
Portanto, histórias sobre o ditador Salazar sempre estiveram presentes em minha criação.
Como foi essa crise?
O Salazarismo, do professor universitário Antônio de Oliveira Salazar, teve início em 1933, depois de ter sido nomeado Presidente do Conselho de Ministros, com plenos poderes, ratificados na constituição de 1933.
Esse “Estado Novo” durou 41 anos, marcados por autoritarismo e muitos exílios, como o de meu avô. Para controlar a população, havia a atuação da temida Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) – uma polícia política.
Após o afastamento de Salazar, vítima de um derrame, em 1968 (vindo a falecer em 1970), o Salazarismo foi continuado por Marcello Caetano. As imposições do regime salazarista já se faziam insuportáveis, e um grupo de militares, os chamados “capitães de abril”, conseguiu depor o presidente Marcello Caetano, no dia 25 de Abril de 1974.
Quais foram as consequências?
Já havia, então, o desgaste de Portugal, pois era difícil justificar a guerra colonial, principalmente em Angola e em Moçambique. Portanto, foram naturais as independências, em sequência, das colônias portuguesas na África: Guiné-Bissau, em 9 de setembro de 1974; Moçambique, em 25 de junho de 1975; Cabo Verde, em 5 de julho de 1975; São Tomé e Príncipe, em 12 de julho de 1975; Angola, em 11 de novembro de 1975.
A independência desses territórios provocou o retorno a Portugal de milhares de portugueses, mas de maneira desordenada, e a alegria do retorno dos exilados pelo Salazarismo, ambos os casos causando transtorno para o novo governo, que ainda se instalava.
Em 1975, após a realização de eleições diretas para o legislativo, teve início a elaboração da nova Carta Magna, aprovada em abril de 1976, com orientação socialista.
Em 27 de junho desse mesmo ano, houve eleição presidencial vencida por Ramalho Eanes e tendo Mário Soares como primeiro-ministro. Portugal, então, iniciou o processo que o levaria à entrada para a Comunidade Econômica Europeia.
Por que a Revolução dos Cravos?
Esse nome se deve ao fato de, em 1974, a população, no dia 25 de abril, ao sair nas ruas para comemorar a liberdade política, distribuir cravos para os soldados e estes os puseram nos canos de seus fuzis. Assim, esta flor ficou como símbolo e nome da revolução que libertou os portugueses da ditadura. Dia 25 de abril é feriado em Portugal e a data recebe o nome de Dia da Liberdade.
Revolução dos Cravos: uma crise em que os fuzis foram usados como jarros de flores!