É conhecida a frase, atribuída ao filósofo grego Esquilo: “numa guerra, a primeira vítima é a verdade.”
É também famosa a frase que o senador Hiram Johnson proferiu em um discurso no Congresso americano em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial: “quando chega a guerra, a verdade é quem morre primeiro.”
O linguista William Lutz corrigiu seu compatriota, num editorial de 1991: “na guerra, a primeira vítima é a linguagem; e com a linguagem vai a verdade.”
Portanto, sabemos isso há muito e o conflito sobre a verdade à volta da guerra Israel-Hamas não é exceção, com ambos os lados se privando de (todas as informações?) toda a verdade.
Com isso, surgem os questionamentos:
_ Israel tem um direito de autodefesa, mas isso lhe confere permissão para impor tantas mortes de palestinos?
_ Os palestinos da Faixa de Gaza são vítimas do Hamas; da opressão israelense; ou cúmplices do Hamas?
_ Matar milhares de palestinos mudará alguma coisa? Isso não vem acontecendo há décadas e as coisas nunca melhoram?
_ Qual será o tamanho da pilha de mortos considerada uma resposta à altura para ambos os lados?
Guerra da linguagem
Esta é, pois, uma guerra que se trava através da linguagem e, por meio dela, uma guerra moral e política, em que a verdade e os acontecimentos pouco importam. Em tempos de guerra, a verdade chega a ser distorcida para atendimento dos interesses das partes envolvidas
Em Gaza, como em Israel, e em todos os países envolvidos, a verdade virou algo escasso, pois as máquinas de propaganda de governos e de ideologias funcionam sem cessar.
A guerra justifica a manipulação da opinião pública? É válido distorcer a verdade para atender aos interesses das partes envolvidas? Não foi isso o que os EUA fizeram para justificar a entrada no Vietnã? Ou para invadir o Iraque em 2003, em meio à guerra ao terrorismo após os ataques às Torres Gêmeas em 2001, alegando existência de armas de destruição em massa naquele país, na verdade inexistentes?
E não nos esqueçamos da velocidade com que as novas tecnologias fazem com que as desinformações se espalhem.
Para se opor a essas distorções da verdade, sem dúvida, a mídia tem papel fundamental, com suas coberturas. Sem a independência do jornalismo, há risco de informações parciais.
Assim, por exemplo, a morte de civis não pode ser mascarada, mesmo em governos que restringem o acesso da imprensa.
A ética profissional dos jornalistas sempre deveria falar mais alto do que a manipulação da opinião pública pelos governos, pois a busca da verdade é fundamental para uma sociedade que clama pela Justiça.
No entanto, o próprio jornalismo bem-intencionado corre riscos na escolha das suas fontes, nas falas que repercute, nas fotos que republica, nas declarações de autoridades, de testemunhos e de especialistas, porque não tem muito como distinguir entre dados e propaganda. Isso quando jornais e sites de notícia não escolhem um lado e militam por ele.
Concluímos, pois, que sim, na guerra a verdade é sempre a primeira vítima!